1.10.06

CRÔNICAS III

Perdoe-se-me a primeira pessoa.

Que tenho constatado?

Cresci e vivi trinta anos em um mundo que incensa certos valores, elevando certas individualidades. Todos admiram atores, Gianechini, etc, supostas sumidades, ou personalidades políticas, profundamente vazias de conteúdo, mas tenho encontrado maior sabedoria e felicidade em pessoas profundamente enraizadas no ostracismo e na miséria.

Isso é profundamente parte da ilusão, pois a miséria é inata, é do caráter do ser vivo, e as altercações da realidade na vida de cada um não deixam dúvidas acerca de uma extrema impossibilidade dessa felicidade que prega-se na beleza de pura aparência.

Temos que admitir que não há conteúdo nenhum no mundo e, portanto, aqueles que perseguiram a profundidade, como eu, estão sozinhos e fadados a uma infelicidade sem saída; no entanto, antes de partir, posso presentear as poucas gerações que me seguirão com um pouco de verdade, a tão perseguida "verdade desinteressada", que não existe, como todos os demais ideais...

CRÔNICAS II

E por que acho que devo ser lido? Não acho que necessariamente devo ser lido, mas que existirão pessoas, algumas, que poderão me compreender, embora ser compreendido seja tampouco necessário. Porém, em poucos lugares serão encontrados documentos tão, de certa forma, "verdadeiros", sobre o cotidiano da vida, a vida deste momento em que vivo, reflexões e críticas de quem não se envolve por estar envolvido demais. Assim, as "ciber"crônicas, me parece, e de forma nenhuma estou certo disso, são resultados de uma visão lúcida e de uma capacidade de expressá-las em nosso cansado, mas ainda vivo, vernáculo, e a única, me parece, coisa que posso fazer na minha desnecessária e gratuita existência, enquanto não morro.

CRONICAS

Eu aqui de novo. Nesta data. Nesta ferramenta. Brincando de estar vivo. Ah, como eu queria estar aqui daqui 100 anos! Tão somente para apreciar a apreciação. Mas isso é vão, ilusório e apenas aparente.

E assim inauguro um novo projeto. Um projeto que tomará as ruas por minhas mãos. Um projeto inseguro como a própria vida o é, temerário e sem chances de êxito, ou ao menos um projeto que não espera nenhuma chance de êxito.

A crônica do tempo, embora isso nada signifique. A invenção da verdade no mundo das aparências, algo que não será apreciado ou conhecido. Mas aqui estará. Sem marketing. Sem preço, sem que ningúém tenha conhecimento. A verdade toda, um documento para historiógrafos, uma nova obra a se tornar velha, uma nova "cultura e opulência no Brasil".