2.3.14

AUDOUS HUXLEY

"Uma Nova Teoria Biológica" era o título do trabalho que Mustafá Mond acabava
de ler. Ficou sentado algum tempo, as sobrancelhas franzidas meditativamente; depois
tomou a pena e escreveu sobre a página de rosto: "A maneira pela qual o autor trata
matematicamente a concepção de finalidade é nova e extremamente engenhosa, mas
herética e, no que diz respeito à ordem social presente, perigosa e potencialmente
subversiva. Não publicar." Sublinhou essas palavras. "O autor será mantido sob vigilância
especial. Sua transferência para o Posto de Biologia Marinha de Santa Helena poderá
tornar-se necessária." Uma lástima, pensou, enquanto assinava. Era um trabalho
magistral. Mas se se começasse a admitir explicações de ordem finalística... bem, não se
sabia qual poderia ser o resultado. Era o tipo da idéia que poderia facilmente
descondicionar os espíritos menos estáveis das castas superiores - que poderia fazê-los
perder a fé na felicidade como Soberano Bem, e levá-los a crer, ao invés disso, que o
objetivo estava em alguma parte além e fora da esfera humana presente; que a finalidade
da vida não era a manutenção do bem-estar, e sim uma certa intensificação, um certo
refinamento da consciência, uma ampliação do saber... O que, refletiu o Administrador,
bem podia ser verdade. Mas inadmissível nas circunstâncias presentes. Retomou a pena
e, sob as palavras "Não publicar", riscou um segundo traço, mais espesso, mais preto do
que o primeiro; depois suspirou. "Como seria divertido", pensou," se não se tivesse de
pensar na felicidade!"

Admirável Mundo Novo, pág. 100

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