29.10.15

PERDI O LIVRO


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Quando um homem se impõe a si mesmo, ele jamais obedece. A única imposição 100% eficiente é cósmica. O infinito e transcendente, fora das nossas possibilidades.

Assim, comecei a matutar, matutando. Como quem nada quer dizer, dizendo nada, como se houvesse ao Benedito dito muita coisa, como faz o Chico Buarque.

Porque há Chicos e Franciscos. Em alguns o pau dá. Em outros, não.

E se o cérebro hiberna, ele jamais para de dormir. Acaba virando diploma universitário.

Eu perdi o livro que ia ler. Corri atrás e descobri que ele estava atrás de mim.

Todos foram enganados e agora estão perdidos.

Os diplomas estão sendo distribuídos como o pão e o circo.

A verdade é solitária.

O pau não deu em Chico. Deu somente em Francisco.



4.10.15

Stiepan Trofímovitch




"Às vezes até um detalhe insignificante afeta a atenção de modo excepcional e duradouro. Todo o discurso principal sobre o senhor Stavróguin está por vir; mas agora observo, a título de curiosidade, que, de todas as impressões colhidas por ele em todo o tempo que passou em nossa cidade, a que ficou gravada com mais nitidez em sua memória foi a produzida pela figurinha sem graça e quase abjeta de um funcionariozinho de província, ciumento e déspota familiar grosseiro, avarento e usurário, que trancava à chave os restos de comida e os tocos de vela e ao mesmo tempo era um sectário zeloso sabe Deus de que futura "harmonia universal", que às noites se inebriava de êxtase diante dos quadros fantásticos do futuro falanstério em cuja realização imediata, na Rússia e na nossa província, ele acreditava como na própria existência. Isso no lugar em que ele mesmo juntara para comprar uma "casinha", onde se casara pela segunda vez e recebera um dinheirinho como dote pela mulher, onde talvez, num raio de cem verstas, não houvesse uma única pessoa, a começar por ele mesmo, que tivesse sequer a aparência física de um futuro membro da "república social universal de todos os homens e da harmonia"

Dostoiévski, Fiódor, Os demônios, Editora 34, p.p 61