30.3.16
A ALMA DO ARTISTA
Que me interessa a alma do artista?
A alma da pedra, do andarilho, do sofista?
Alma é alma ou alma não é.
Que é alma? Que palavra explica o que é?
Sim, as palavras dizem,
Os mendigos pedem,
Os artistas fingem,
Escritor escreve,
O leão ruge
E a caverna é de Platão.
E o coração?
O coração bate ou está no espeto
Se for de frango.
As hienas comem,
Se for de leão.
Mas o homem não criou a alma,
Apenas deu-lhe um nome
A alma existe,
Até a dialética existe,
O que não existe é o materialismo dialético.
22.3.16
HISTÓRIA INFANTIL PARA ADULTOS
Adentrou, em um primeiro momento de forma tíbia; enfim empertigou-se, escolhendo uma carteira vaga. Todos olhavam para si, como se fosse o imponderável, mas não passava de um velho.
- O que vocês estão olhando, imbecis? - e a sala de aula transformou-se em um burburinho de risos infantilóides, como se aquelas pessoas de vinte e vinte e poucos anos não fossem adultas.
A professora entrou, com ares eruditos, e percorreu a sala com os olhos inseguros, e se incomodou com a presença dele:
- Bom, aprender não tem idade...sejam todos bem vindos - falou, com os olhos fixos no velho.
Este, imperturbável, manifestou-se:
- Professora, com todo o respeito, eu poderia acender um cigarr....
- Imagina seu...
- Jorge.
- Seu Jorge, sei que no seu tempo as pessoas fumavam em todos os lugares e...
- Tudo, bem, professora. Estou me retirando. Está vendo aquela janela ali e a fumaça entrando?
- Sim, estou.
- Aquilo é maconha. Vou até lá, me juntar com os maconheiros, mas para fumar meu cigarro. Quem sabe isso lá é aceito.
E o velho foi fumar seu cigarro com os maconheiros. Mas eles não quiseram saber e o expulsaram.
Então, o velho voltou para casa e largou a faculdade.
8.3.16
CONSERVANDO
eU PRECISAVA ESTAR LOUCO PARA FAZER AQUILO.
Que diferença faz, crescendo eu em meio a loucos?
Agora já não enxergo as vírgulas, a vista falha e sei que é idade,
A fumaça e a cidade.
Mas a verdade.
Ela me chama a atenção.
A verdade não está usando batom nem maquiagem.
Ela não é a mulher de Nietzsche, porque Nietzsche nunca teve mulher.
A verdade é frugal e está subindo no pé de manga
E se lambuza exibindo dentes brancos e diz envelheço e renovo.
A um homem do meu tempo sendo louco mais admira a mulher sendo Tétis e Atena.
Aquiles teve seu Pátroclo e eu não quis o nada e não quis o Pátroclo.
Assim, mandei Epicuro aos infernos.
E chorei.
4.3.16
Minha Pergunta
Minha pergunta não tem resposta.
O quê você vai fazer amanhã?
Como vai me proteger?
Vai me amar daqui vinte anos?
Promete? Promete, como?
Não prometa.
Nós estamos nos empenhando.
O quê você vai fazer amanhã?
Como vai me proteger?
Vai me amar daqui vinte anos?
Promete? Promete, como?
Não prometa.
Nós estamos nos empenhando.
Da irrelevância
Eu tanto pedi a Deus que ele me deu. Deus é fiel. Nenhum urso se achou importante e eu nunca estive na boca do urso como os ursos na boca das espingardas.
A minha irrelevância não me exalta, torna-me ainda mais irrelevante.
Entre os vivos e mortos, entre a insignificância diante da eternidade: eu, os vivos e os mortos.
Obrigado, vivos e mortos. Ursos e homens.
Já me fizeram um obséquio.
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