10.7.16

PARESTESIA



Sentado não estava bom. Em pé também não. "Não ganha a sua criação com o suor do rosto - ela ali está, à porta, esperando para ser despertada ao primeiro contato com a dura realidade. É o sofrimento que ele tem que cultivar, não a virtuosidade do maestro".

Essa efígie de Henry Miller o perseguia quando retirou o livro da prateleira e o devolveu, e depois o procurou de novo, mas ele não estava mais lá, por mágica, até que no outro dia ele descobriu que tinha largado o livro sobre a escrivaninha e não o devolvera à prateleira. Era "O Tempo dos Assassinos", mas ele definitivamente não era Rimbaud nem Henry Miller, nem Billy Corgan nem Silvio Santos, mas era ele, ele mesmo, por graça e circunstância.

E por quê raios deixou a boca do fogão ligada se não ligara a boca do fogão ou não se lembrava de havê-lo feito? Cheirou o gás e correu a apagá-la, as portas estavam abertas.

Queria muito fumar, mas ficou com medo.

Esperou trinta minutos e acendeu um cigarro.

A casa não explodiu. As pernas lhe coçavam.

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