23.11.16

UM DIABO VELHO SE ARRUMA PARA VER A MORTE DE SÓCRATES

O pastor de ovelhas Demétrios estava cansado. Parecia um diabo velho. Passou ao lado da porta de vidro e  viu sua imagem refletida. "Um diabo velho", pensou. "Nada mudou". Cabe observar aqui que diabo velho talvez remonte à mitologia do dáimon, grega,  um semideus cansado e cheio de vícios, que existia muito antes do advento do cristianismo. Certamente nessa época os judeus estavam lá, comprando e vendendo.

Atenas é uma cidade cheia de fiósofos e sofistas, homens respeitados que não passam de mendigos  falantes, parasitas da atenção incapazes de acertar um prego à porta ou carregar uma carroça com feno ou recolher um balde d'água para abastecer o estábulo. A esses chamam intelectuais ou políticos. São mendigos importantes, recebidos com pompa em casa do efeminado Alcebíades, vivendo às custas da distração do homem comum, que de tantos afazeres não tem tempo para pensar, então paga com a lei Rouanet para que pensem os sofistas, os Aristófanes, os Sófocles e, principalmente os Eurípedes e os Josés Celsos.

Mas ele finalmente foi convidado para um evento social. O suicídio de Sócrates está marcado para amanhã. Muito se pensou que o velhote fugiria, até as autoridades tentaram esta solução extra-legal, facilitando sua fuga, implorando mesmo que ele fugisse, mas o homem se manteve irredutível. Ele queria sair da vida para entrar na história.

Então o pastor de ovelhas Demétrios apertou sua gravata e beijou a imagem do Sileno: "Hoje vou me divertir".

Mandou a mulher recolher as crianças, trancar a porta por dentro e macetar as azeitonas, que ele iria voltar para a janta.

Que programa, o suicídio de um filósofo! Prometeu à patroa que iria tirar uma selfie.


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