3.6.17

ÁGORA

Lá, onde estamos sós,
Estão todos os combatentes.
Na mesma alma, a que tenho, a tiveram os poetas,
E também os guerreiros.
E  muitos que foram poetas e guerreiros.
É lá que nos vexamos, ou nos lançamos em contrição.
É lá que amamos, odiamos e então
É como a Ágora, da paixão e da razão
Onde entre si discutem
O vício e a virtude,
O dever e o querer
E do mais vil egoísmo
Nasce o ato de dever
Como vã solicitude.
É na Ágora da alma
Onde guerreia o nosso ser
Tentando melhor sorte
Debruçar-se em águas calmas
Para ter do que beber.
É lá mesmo onde combatem
O orgulho e a humildade,
O silêncio e o rumor.
Lá também há tempestade,
A solidão ruidosa da cidade,
O andar por entre as ruas,
Ruas minhas, ruas tuas,
Da cidade solitária.
Lá gritamos e choramos
Sem sermos vistos
Desejando o que não há.
Lá também é onde amamos
Imprudentes espartanos,
Defendendo a nossa fé.
Guerreiros em armas,
Homens, mulheres, crianças,
Somos tudo e somos nada.
Legisladores de dores,
De superficialidade e profundidade.
De paixões e de amores,
De doenças e de dores,
Colocando-nos em pé.
Todo o dia de alegria e de agonia,
Passo a passo.
Vida a vida.
Vida a vida.
Na Ágora da alma eu às vezes espero um conselho
De um concidadão.
Passo a passo,
Alma a alma.
Vida a vida.
Lá, onde há um solar relógio que conta as horas
De nossa despedida.
Enquanto sérios esperamos os Campos Elísios,
Encontramos o Hades e talvez nem isso.
Mas amamos, contritos,
Nos renovamos, aflitos,
No olhar de uma criança, num sorriso de mulher.
Lá, na Ágora chamada Alma,
Como o poeta que foi à guerra e voltou,
E de lá, tudo narrou,
Escrevendo, enfim, a Bíblia.