19.5.14

PALAVRAS SURREAIS





Palavras surreais de um observador da pós-modernidade.

Lembro-me das palavras e de como ri quando li o texto de Carlinhos Oliveira, sobre os elefantes de Ho-Chi-Minh bombardeados com napalm.

Isso não fazia sentido, e Clarice Lispector adorava.

Como não saber, com o rasgo de Stanislaw, que às vezes uma ausência preenche uma lacuna? Isso já parece dizer alguma coisa. Tia Zulmira sabe que é a mesma coisa: "filho, não vá àquela festa, eles não querem te ver por lá, nem pintado de ouro".

Como faz sentido uma tia qualquer dizendo para não utilizar neosoro, porque supostamente estou sendo tratado com antidepressivos tricíclicos! Como reagiria eu a agentes simpatomiméticos?

Como dizia eu a mim mesmo que o tempo gotejava em certos momentos, como as gotas de uma torneira quase fechada? Queria dizer eu alguma coisa, ah, queria, e ademais o encanamento rompeu inundando a casa, e aí o tempo passou bem rápido.

Sim, a parede ao lado é branca, e percebo nela vários tons de cinza, pois choveu muito ano passado, e a água se infiltrou, e água quer dizer água, mas é também palavra, e vários tons de cinza é quase um livro pornô para mulheres.

Eu acerto no português até quando erro. Pois esta é a língua do português, inclusive a do português da piada, o que só existe no Brasil. Porque o Brasil um dia precisou rir de si mesmo, mas não teve coragem, e inventou um personagem chamado "português da piada" para rir de si mesmo, sem dar muito na telha.

Palavras...

Logo eu que sou um homem de poucas palavras, mas falo muito e demoro a responder. Que querem de mim, se não sou exatamente bom com as palavras? Tenho um pé atrás com elas e com as peças que pregam através de pregadores de peças. São pregadores de peças também os ilustres ferreiros e marceneiros. Para quem tem apenas um martelo, tudo é prego, até as palavras. Ou os rebites.

Mas eu não sou Nietzsche, e não filosofo empunhando o maldito martelo, posto que nunca filosofo e quase nunca martelo e não quero ser heroico, porque o Grande Ninguém caminha para lugar nenhum.

E sabemos que, na divertida história de Carlinhos Oliveira, se os elefantes na trilha de Ho Chi Minh forem do norte para o sul, eles serão comunistas, e sabemos que foi exatamente o que ocorreu, e depois bastou um feriado no Camboja com Dead Kennedys.

Palavras surreais de um observador da pós-modernidade.




 

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