29.7.14

O ESCRITOR IMPOSSÍVEL



Eram dez horas da noite, e uma luz lânguida iluminava sobre a escrivaninha o mata-borrão. Caneta à mão, tinteiro a postos, tinha dificuldades para compor o texto. Devia estar em pé cedo, a repartição não podia esperar.

Apesar dos pesares, tinha que ser um escritor russo. Não queria escrever sobre si mesmo, embora fosse isso que exatamente sempre fizesse.

Matar um borrão.

Escritor russo.

Quantas vezes os escritores russos mataram pessoas?

Não queria ser mais russo, nem escritor.

Não era a mesma coisa, pois não poderia deixar de ser russo (no máximo poderia fingir que deixou), mas poderia deixar de escrever bobagens, tanto faz, em russo ou francês. Já há escritores russos, ótimos e péssimos, em demasia.

Bebeu um gole da vodca.

Repentinamente, uma ideia iluminou o candeeiro.

E se ele se transformasse em escritor brasileiro?

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