14.7.14

O PACIENTE DO PSIQUIATRA



- Doutor.
- Como vai?
- Mal, doutor. Minha memória...Os remédios não ajudam.
- Vamos trocar os remédios.
- Mas eu quero lembrar aquela palavra...aquela do tempo que passa.
- A priori kantiano.
- Não. Aquele relógio, troço egípcio, babilônico, sei lá. Os remédios estão me deixando esquecido.
- Mas você não queria esquecer o sofrimento?
- Queria esquecer o sofrimento, mas não todo o resto. Para isso não precisava remédio. Era só eu continuar bebendo...
- Beber é vício. Você não está bem.
- Obrigado, doutor.
- De nada.
- De nada, não, eu estou pagando caro.
- Vamos aumentar a dose. Trocar o remédio. Você está refratário ao tratamento.
- Doutor?
- O que é?
- Lembrei que estou sem dinheiro. Não posso te pagar.
- Melhor vir se consultar duas vezes por semana. Venha na quinta e aí você me paga.
- Estou curado. Lembrei a palavra. Acho que acabou meu tempo.
- Ãhn?
- Ampulheta.

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