11.7.14

O GRANDE NINGUÉM, A LUZ QUE NÃO ACENDE, NEM ASCENDE



Encontrava-se junto ao urinol, urinando.
Nesses momentos, divagava sobre o ato de urinar, urinando. E o urinar não era um espetáculo da verdade? Aparentemente, urinava, verdadeiramente, urinava.
Era verdade que urinava, ou apenas parecia que urinava? Urinava em essência, ou em aparência?

Reticências.

Acendeu o cigarro. Estava em casa e o chinchila macho o desafiava a colocar mais uma uva passa. Aquele chinchila macho, não era possível, havia lido Nelson Rodrigues.

Reticências.

Nós, os Quincas Borbas, assinamos Machado. Nós, os Esteves, assinamos Pessoa.

O chinchila fêmea me observa, apaixonada.

Reticências.

Estava com fome, e parecia D. João VI, com aquela coxa de frango na mão. Cadáveres humanos estavam mais na moda.

Reticências.

Sentiu-se culpado e assassinou três pés de alface. Sem chulé. Sem reticências.

Todos têm razão. Só que as coisas acontecem de forma diferente da razão de todos. Quem tem razão? E eu? Não faço parte de todos?

Sem reticências.

Gosto de Jesus, e por gostar dele tento não colocar palavras em sua boca. O pior idiota engana a si mesmo, e ainda se acha esperto. "Maldito o homem que confia no homem".

Algumas reticências. Sou eu quem está falando?

Alguns querem porque querem melhorar o mundo, e só pioram.

Cansaram do juízo final e decidiram eles mesmos julgar finalmente.

Demorou demais pra morrer. Vamos solucionar a vida, sem sequer um dicionário.

Vamos mudar o mundo, seja lá o que isso for.

Vamos ser idiotas. A solução da vida, nós fazemos.

"Eu tenho um projeto para uma sociedade futura melhor - a minha!" - isso me disse alguém, e eu não podia sequer ironizar.

Então preferi olhar pra cima, ia chover, ou não?

Então, o homem acendeu a lâmpada de querosene, ele não queria iluminar o mundo. 

Queria ganhar seu dinheiro. Dependendo de quem pagasse, acenderia para Deus ou o diabo.

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