23.9.14

O MELIANTE - PERSPECTIVA REGISTRADA


Retratos cantados. Falados.

Assinados.

Assassinados.

Meliantes e militantes são como moscas.

Acham que progredir é bom.

Ebola progride.

E a bola regride.

Nem tudo necessariamente evolui.

Pelé e preto.

- Macaco - Pelé diz.

Ele ri.  Os brancos se ofendem.

Gostei mais de Pelé do que dos progressistas.

Pelé nunca foi burro.

Mas a dengue é progressista.

(Desenho de Igor)



BOSQUE DOS DESEJOS (sem imagem)

Segredos são desejos.
Não adianta dizer que não.
Ai de mim se teus desejos.
Ai de mim se tua razão.

Ai de mim, se realizas o que pensas.
Ai de mim, se utilizas tua razão.
Teu pensamento se sustenta
Em tua emoção.

Bem-vindo ao bosque dos desejos,
Onde o segredo não tem tempo nem idade.
Ser imbecil por osmose
É o que ensina minha realidade.

Quem me dera um mundo assim
Onde uma idéia se transformaria,
No começo, ou no fim
De um desejo que um idiota

Realizaria.

Escrito em homenagem à velha ortografia. Se os socialistas quiserem mudar a ortografia mais uma vez, eles que se fodam (Jack Keslarek).

16.9.14

JOGRAL: O HOMEM QUE LIA O BIGODE


Bigode:

- Em geral, todo o progresso tem que ser precedido de um debilitamento parcial.

O homem que lia o bigode: "Eu entendo. mas o debilitamento agora é muito mais que parcial..."

Bigode:

- As naturezas mais fortes conservam o tipo, as mais fracas ajudam a desenvolvê-lo.

O homem que lia o bigode: "O tipo está mal conservado e involuindo".

Bigode:

- É, primeiro tem que haver o aumento da força estável.

O homem que lia o bigode: "É, a força está instável, e a instabilidade aumenta".

Bigode:

- Depois a possibilidade de se alcançarem objetivos mais elevados, por surgirem naturezas degenerativas...

O homem que lia o bigode: "As naturezas degenerativas estão aí, mas os objetivos mais elevados..."

Então o homem que lia o bigode adormeceu com o livro na cara, e a verdade não se mexeu.

As falas do bigode são extraídas de "Humano, demasiado humano", F.W. Nietzsche, Cia das Letras, aforismo 224.

O QUE É MEU, E TAMBÉM SEU

A burrice que você tem é a mesma que a minha. Eu a reconheço e sinto vergonha se não puder superá-la. Você ri de mim. E se acha esperto. Você será a seleção natural. O burro também é. Eu morrerei e desaparecerei. A verdade sobreviverá a nós dois.

Jack Keslarek, apud Fernando Pessoa. Jack Keslarek escreveu, Fernando Pessoa repetiu, e Jack Keslarek psicografou.

2.9.14

RETRATO DO MELIANTE

Descoberto.

O auto-retrato falado do meliante conhecido por Keslarek. Jack Keslarek.

Note-se o mosquito da dengue e o sorvete voador não identificado.

Quem reconhecer o elemento nas ruas, favor comunicar a polícia de Kansas City pelo número 911.

Precisamos parar com os crimes desse mosquito, que é perigoso.

O PEQUENO BATEDOR DE CARIMBOS



É verdade que não sou covarde. Então eu me pergunto: por quê tão frequentemente eu me pego agindo como um? Terá sido por coincidência que nasci tão próximo de Brás Cubas?  Teria Machado de Assis um elixir, ou apenas um panfleto realista, porcamente classificado em faculdades de letras? Da minha parte, entendo que Machado era um homem que queria se destruir de forma tão estapafúrdia que acabou ficando famoso.

Posso provar? Não posso. Posso ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas. Não posso ler as Memórias Póstumas de Machado de Assis, tal como não nos chegaram as Memórias Póstumas de Sócrates e outros que tais (et caterva, como se diz por aí). Poderia sair ao menos gritando a postura covarde do positivismo? O Brasil falhou? Marimbondos de Fogo na Academia? Teria Augusto Comte se orgulhado?

Digo isso, sábio leitor, não para enlevar minha grande sapiência (que ademais não existe), mas são questões que me imponho, como flagelo: ora, se estou há quinze anos batendo carimbos, e se me especializei tão bem nessa bossa, como diriam nos anos sessenta, percebo que vivo na sociedade antiga, que valoriza os carimbos.

Vejo, com certa resignação, que todos os carimbadores (e há muitos carimbadores, impressores, artistas gráficos e que tais) se consideram Machados de Assis, e eu um dentre eles. Talvez a isso possamos chamar democracia, uma palavra que alegra a todos.

Sou um batedor de carimbos. Há batedores de carteiras. Há batedores de carimbos que são batedores de carteiras. Sou só um batedor de carimbos. O carimbo de que mais gosto: "NADA CONSTA". Às vezes um carimbo fala mais alto.

1.9.14

SOU AMIGO DOS OLAVOS

Vita Nuova

Se ao mesmo gozo antigo me convidas,
Com esses mesmos olhos abrasados,
Mata a recordação das horas idas,
Das horas que vivemos apartados!



Não me fales das lágrimas perdidas,
Não me fales dos beijos dissipados!
Há numa vida humana cem mil vidas,
Cabem num coração cem mil pecados!

Amo-te! A febre, que supunhas morta,
Revive. Esquece o meu passado, louca!
Que importa a vida que passou? que importa,

Se inda te amo, depois de amores tantos,
E inda tenho, nos olhos e na boca,
Novas fontes de beijos e de prantos?!

Olavo Bilac, in "Poesias"