2.9.14

O PEQUENO BATEDOR DE CARIMBOS



É verdade que não sou covarde. Então eu me pergunto: por quê tão frequentemente eu me pego agindo como um? Terá sido por coincidência que nasci tão próximo de Brás Cubas?  Teria Machado de Assis um elixir, ou apenas um panfleto realista, porcamente classificado em faculdades de letras? Da minha parte, entendo que Machado era um homem que queria se destruir de forma tão estapafúrdia que acabou ficando famoso.

Posso provar? Não posso. Posso ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas. Não posso ler as Memórias Póstumas de Machado de Assis, tal como não nos chegaram as Memórias Póstumas de Sócrates e outros que tais (et caterva, como se diz por aí). Poderia sair ao menos gritando a postura covarde do positivismo? O Brasil falhou? Marimbondos de Fogo na Academia? Teria Augusto Comte se orgulhado?

Digo isso, sábio leitor, não para enlevar minha grande sapiência (que ademais não existe), mas são questões que me imponho, como flagelo: ora, se estou há quinze anos batendo carimbos, e se me especializei tão bem nessa bossa, como diriam nos anos sessenta, percebo que vivo na sociedade antiga, que valoriza os carimbos.

Vejo, com certa resignação, que todos os carimbadores (e há muitos carimbadores, impressores, artistas gráficos e que tais) se consideram Machados de Assis, e eu um dentre eles. Talvez a isso possamos chamar democracia, uma palavra que alegra a todos.

Sou um batedor de carimbos. Há batedores de carteiras. Há batedores de carimbos que são batedores de carteiras. Sou só um batedor de carimbos. O carimbo de que mais gosto: "NADA CONSTA". Às vezes um carimbo fala mais alto.

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