1.9.15

A BRASA DO MEU CIGARRO



Era  um lugar que conhecia bem, mas nada daquilo lhe dizia respeito. Aquela rua que cortava aquele memorial de memórias opacas lembrava a imagem que tinha em sua cabeça, daquela mão enfiada no casaco, diante de Goethe, dizendo: "Eis aqui um homem!", antes de ser internada, a mão, juntamente com seu legítimo proprietário, no hospício de Santa Helena ou o que o valha.

O cigarro aceso entre os dedos rodava e rodava displicente até que a brasa queimava novamente o dedo onde já tinha queimado as cicatrizes das queimaduras anteriores e então ele olhava para a luz do poste e pensava em pessoas que haviam morrido, que jamais conheceria.

Já era um tempo em que simplesmente ignorar não fazia de si um ignorante da ignorância, muito além dos charlatães da verdade. Ele conhecia a ignorância, e a levava para todas as mesas de black jack que não frequentava.

"Não que não tenha vícios, mas escolho bem os meus", deve ter dito um sabido bem sábio.

As veias que sangravam na américa estúpida eram as veias da imbecilidade.

E aquele monte de concreto imbecil era uma passarela tão grande que o pequeno corpo incógnito de um ser quase inteligente quase teve uma iluminação sobre a idiotia.

Mas Shakespeare chegara antes.

Do outro lado da rua, a cinquenta metros, um cara viu seu cigarro aceso e tossiu.

"Idiota", pensou nosso Napoleão Niemeyer, e queimou mais uma vez o dedo queimado.

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