22.5.16
SEMPRE RI
Era um homem do riso fácil. Sempre o chamaram filósofo. Da contradição arrancava a unidade. Da dúvida, a certeza . O homem era todo sorrisos. Provocá-lo achando que ele seria vencido era trazer à tona uma miríade de fábulas, lugares-comuns e frases de para-choques de caminhão. E sorrisos. Muitos sorrisos. E muitos o achavam sábio. Ao contrário do conselheiro Acácio, suas platitudes eram ditas de forma fácil, em um tom de voz afetado. Era considerado sábio, pois em terra de cegos quem tem olho não abaixa as calças.
Esse homem estava no rádio, na televisão, na internet e nas cátedras. Nada mais apropriado. Ele era um condutor de rebanhos, quer para o pasto ou para o abismo.
Entendo que rir é bom. Mas os idiotas são os que mais riem. De tais premissas, não sei se posso concluir que apenas os idiotas são felizes.
"Livre pensar é só pensar", dizia Millôr. E se a pobre inculta e bela ainda vigora, pensar não é falar.
Naquele dia, nosso sábio deparou-se com um homem muito enfezado. E deu vazão à sua cantilena sobre o riso, a alegria (entendam, gosto do riso) e a conversa de botequim de fim de noite do homem que não bebe com os bêbados. Após seu panegírico sobre as salutares propriedades do riso, seu interlocutor despediu-se, dizendo:
- Assim nasceram as hienas.
E foi embora. Nosso sábio ficou lá, rindo.
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