2.8.16

GENTE NORMAL

O apito do guarda noturno lembra o uivar do lobo. Olhei para o lado esperando achar peiote. Apenas a luz havia sido extinta, no momento. As televisões e as internets se calaram. Então, com o silêncio dos aparelhos eletrônicos, pude ouvir as preces ao governo, vindas de todo o bairro, para que restabelecesse a energia. As preces vinham desde a novela interrompida até a máquina de hemodiálise desligada.

 Eu quis ser Aliocha, mas nada neste mundo permitia. Fogos de artifício começaram a estourar em homenagem a algum time de futebol. Esses torcedores que consigam alguém para enfiar essas bandeiras de time de cem metros dentro das suas gargantas, arrastando o que sobrar em seu féretro.

 Com o barulho dos fogos, gente muito sensível começou a se preocupar com os coitadinhos dos cachorrinhos, e eu me coloquei em posição fetal e passei a chupar o dedo.

 Levaram-me ao hospital, onde me aplicaram pesadas injeções de narcóticos até que eu assumisse ser um cabra macho torcedor do corinthians e amante dos bichinhos, como toda a gente normal.

 Certamente toda essa gente é muito racional.


 Poderia dizer que são os jovens, mas os jovens acham os zumbis e os vampiros menos bizarros.

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