9.5.17
UMA VEZ QUE ESTEJA CLARO
Os sentidos obscurecem a verdade. A intuição a capacita um pouco, mas ainda de forma turva e opaca.
Admira-me os cientistas serem tão convictos.
Admira-me os poetas serem tão insensatos.
Admira-me acordar e dizer: "não há tédio", e nem sempre o que há é melhor do que o tédio que não há.
Admira-me a rima e a aliteração, que fazem-me rir um riso meio forçado como uma vírgula fora do lugar que muda todo o sentido e direção. A maior parte do que se diz nada quer dizer.
Fortes são os cheios de sentido que fenecem bravamente ante o olhar atônito dos que fenecerão em seguida sem tanta bravura.
E eu, quem sou? Certamente o que fenece. Eu quis ser Aquiles, depois quis ser Heitor, e agora me contento em ser o velho Príamo, mas daqui a pouco terei de me contentar em ser Criseida.
Mas eu queria ser mesmo o velho Nestor.
Aquiles, Heitor, Príamo, Criseida, Nestor. Todos feneceram.
Uma vez que esteja claro, começa a confusão.
Foi como quando inventaram a poesia sem rima, a arte sem beleza, a verdade sem imaginação. O mundo mergulhado em barbárie e loucura, porque se sentiram entediadas as almas agonizantes, mas na verdade era agonia o que chamavam de tédio.
E agora talvez tudo seja agonia; talvez ainda haja amor.
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