28.5.14

ABSINTO E GRANADINE XI: JOGO DE DOMINÓ



Não pretendo me atirar ao poço com tamanha frequência. Para o poço, melhor que lhe seja atirado um balde, e dele recolhida água límpida e pura.

Mas isso não é sobre mim.

Alguns velhos jogavam dominó em uma praça, e uma peça se perdeu, despercebida.

O espírito da alma da peça do jogo de dominó se havia perdido, juntamente com a própria peça. Os velhos sobre a mesa da praça se entreolharam, a seguir procuraram a peça, e enfim se levantaram e retornaram para suas casas em silêncio. Afinal, não dava para jogar dominó sem a peça faltante.

No momento da despedida, o silêncio os unia. Separaram-se em silêncio, cada um com sua própria experiência do espírito da alma da peça do dominó. Não me lembro se era o 2X5. Ou o 6X6. Também não dava pra dizer o que se passava em cada vida, sabia que eram ou casados, ou viúvos, ou solteiros, ou qualquer coisa como estado civil, idade, cor, dentes ou não, taxistas, advogados, crentes ou incréus.

A peça de dominó os unia com o espírito de sua alma. Sumida a peça, sumia o espírito de sua alma (da peça, do dominó, dos velhos estarem reunidos, eu sei, eu mesmo sou velho).

Apenas Argemiro rompeu o silêncio, comprometendo-se a trazer um novo jogo de dominó, com a peça faltante.

Assim, no dia seguinte, voltariam à praça para jogar dominó. Com  o dominó do Argemiro, a peça faltante também voltaria. Com a peça faltante, o espírito de sua alma.

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