29.10.14

ESCRITO SURREALISTA




- Alguns dos meus amigos mais simples sabem ler melhor do que alguns dos mais estudados. Basta conhecer o sentido das palavras e o que elas representam no mundo real. Mas alguns dos meus amigos mais simples têm mais amor pelo conhecimento e pela verdade do que alguns dos meus amigos mais estudados.

A moça simplesmente não se interessava no que o rapaz falava. Tomava seu sorvete de açaí e acariciava seu bichano, de maneira frívola. Ela era praticamente um bichano, até em seus verdes olhos.

Enfastiou-se o rapaz, e empertigou-se:

- Não adianta falar. Todo mundo peidou e não foi ninguém...

A moça de olhos verdes peidou. Fedido.

O rapaz reagiu ao peido:

- Vou transformar teu peido em poesia...

- Duvido. Não vale.

- É verdade, eu não sei escrever. Sou o Elói da máquina do tempo de H.G Wells. Sou a acrobacia lógica de Bertrand Russell. Da matemática à inexistência da metafísica! Sem intermediários.

Virou-se e dormiu. Teve sonhos nem freudianos, nem bretonianos, nem salvadordalinianos. Aliás, sonhou que Dali foi expulso do surrealismo e morreu miseravelmente louco.

O moço gritou a noite inteira, em seus sonhos.

A moça peidou muito naquela noite.

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