29.11.15
O VALOR DA IRRELEVÂNCIA, OU: O alemão ficou louco. Drummond não.
Coloquei os CDs para tocar. Nessa época ainda haviam.
Algumas vozes arranhavam os ouvidos como motosserras melódicas. Outras soavam leves como o pó da fada Sininho.
O mundo já errava pós-moderno.
Parece que foi nos anos noventa que o povo desistiu de desistir, porque quem não desistira de desistir já tinha morrido com Jim Jones.
Agora os jovens talvez tentem ser mais inteligentes do que os velhos, seus pais, e do que as crianças, pais dos homens.
Não me interpretem mal, não me interpretem.
Eu quis ser um homem doce como um Halls de cereja, não um galeto no frigorífico.
Mas isso são metafísicas, e um Karamazov alemão de bigodes disse que as metafísicas não existem.
Tudo bem. O alemão ficou louco. Drummond não.
Na minha irrelevância, Deus vê. Eu me persigno, contrito.
Assim deve ser.
23.11.15
SULTÃO SEM SWING
Estava então em um looping perfeito.
Nada perfeito.
Seria então eu doente ao ver que tudo se perfaz da forma mais difícil?
Por quê não aceitar que as coisas são exatamente assim?
Por quê caminhar então pelas cordas bambas, sem a alegria do artista?
Seria doença aquilo apenas por havê-lo assim ditado um homem morto, como todos os homens mortos?
Fui tantas vezes da Califórnia ao México buscar drogas com homens doentes, embora fossem eles também doces e amargurados?
Voltar e voltar e voltar a mim mesmo, mas isso não é imanência é apenas vício.
Porque Jesus e Maria sempre estavam me salvando com amor de pai e de mãe e de filho e do Espírito se pudesse me perdoar?
E que no máximo sem ritmo e apenas por odiar o ritmo por ser eu o ritmo e às vezes querer fugir dele?
Mas estou pondo no rádio sempre a mesma música, e não é um soneto, mas é.
Não foi então por falta de esforço que permaneci na mesma posição.
E que desde a infância me encantava com aquele sorriso dizendo "isso não é o que chamam 'rock and roll'".
Eu sou o sultão, sem swing.
MARONIS
O valoroso Enéas
Dispara ignóbil vulgo, e o facho e o canto
Já voa, as armas e o furor ministra
Mas, se um pio ancião preclaro assoma,
Calam, para escutar o ouvido afiam;
Ele os convence e os ânimos abranda
Virgílio, Eneida, 165. Trad. Manoel Odorico Mendes.
SOU UM MAU POETA
Quisesse eu ter
Todos os momentos
E comandar os destinos,
E possuir as riquezas,
E curar as doenças,
E iluminar os destinos,
E comandar a morte
Apenas para detê-la,
E sublimar o mal,
Mesmo os erros que há em mim.
Ainda sou capaz de amar,
Mesmo após longa solidão.
Ainda sou capaz do bem.
Ainda sou capaz de pedir a Deus
Que não feche as portas
De sua misericórdia -
A qual jamais mereci.
Amor, não paixão,
Que todos a têm,
Inclusive os animais.
Amor, apenas escolhe
Quem dele é capaz.
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