27.4.05

SOZINHO PENSANDO EM BELLE

Solidão amada
Amada odiada
Pendular dissimulada
Solidão amarga
amarga doce
bandida bandida
amiga parida
fodida solidão
solidão mentira
atira destila
solidão oficial
animal vejetal
solidão mineral
mineral água
solidão terra
ar fogo
solidão homem
mulher solidão
poesia jogo
poesia entendimento
solidão conhecimento
sabedoria solidão
quietude solidão
solidão perfume
sabor solidão
amor ódio
paz raiva
tesão solidão
solidão nuca
orelha ventre
solidão seios
solidão Belle

O DEUS QUE FUMA

O Deus que fuma se dissolve na fumaça. Nenhum Deus Objeta ao homem. Após o abraço final, saúde infinita e dissolução do tempo e do espaço.

O DEUS MORTO

O Deus morto traz esperança aos olhos do homem enganado

22.4.05

NOSSO CORRESPONDENTE BAUDELAIRE

Telegrama postado por nosso correspondente no último lugar da terra:


AQUI É O RECANTO FINAL, NÃO VAI ALÉM...

ALÉM DAQUI, NENHUM LINK. NINGUÉM IRIA QUERER.

AQUI, FOLIA, 24 HORAS POR DIA!

AQUI ONDE ESTOU COM UM LAPTOP NO COLO.

É UMA PRAIA ONDE MANTENHO CONTATO COM A CIVILIZAÇÃO VIA SATÉLITE,

INOBSTANTE O FATO DE TRATAR-SE DE UM LOCAL ERMO, PRIMITIVO,

SOU UM CARA MUITO RICO, E TENHO TUDO QUE PRECISO,

COISAS E COMPANHIAS...

MANDEI FAZER UM DRINK DELICIOSO - "SEX ON THE BEACH"!

OS NATIVOS SÃO DÓCEIS - O CONTATO COM A RIQUEZA É CIVILIZADOR

NUM LOCAL INABITADO, E ATÉ INÓSPITO, EU DIRIA

EU VIVO COMO UM BOM CRÍTICO DE ARTE, UM DEGUSTADOR DE ARTE,

QUE É PAGO PARA FALAR BEM DO QUE É MUITAS VEZES BOM MESMO!

PELA NET, ESTAREI ACOMPANHANDO A PEÇA "ALMA BOA DE SETSUAN",

(já que "desacorrentaram" Brecht), POR UMA WEB CAM ESCONDIDA,

QUE TRANSMITIRÁ EM TEMPO REAL UM ESPETÁCULO DE BRECHT!

NADA COMO BOM GOSTO NA VISÃO - UM SONHO BOM COM SABOR DE ETERNIDADE!

18.4.05

ESGOTOS SUJAM A VIDA COM VERDADE II

Conseguiria ter para mim achado, oh humanidade precária
Um meio pelo qual poderei de ti zombar eternamente
Sem que me afeteis até o meu derradeiro suspiro?
Que força para tanto!
Mas choro, eis que teria que alcançar o sobre-humano
E teria que rir entre o horrível espetáculo de máscaras
E contar ainda com uma perfeição sobre-humana
Poderia eu aplicar às musas suficientes elogios
Para receber bençãos divinais?
Poderia eu levantar minha cabeça acima
Dos inúmeros animais rastejantes com uma sensação qualquer
De leve embriaguês Keep Cooler em várias cores
Em lojas de conveniências flutuantes nos céus sombrios
De um dos anos 80?
Oh, musas, aplico-me à verdade, e a verdade é o nada!
Que fosse sempre desejável que o nada fosse belo
Como as vossas formosuras!
Que fosse desejável que a totalidade de nossa existência
Fosse reservada para o louvor das vossas beldades
Oh, Lúcifer cruel, Deus disfarçado de mal para reinar com maior tirania!
Que nos esconde os sátiros e as musas e as delícias
Porque somos civilizados mas devemos conviver com a selvageria
E somos melhores mas não podemos sê-lo
Seremos logo escravizados pelos objetivos que não são os nossos
Por deuses que não são os nossos
Seria bonito que tivesse voz para que me levantasse e gritasse
Seria bom ouvir louvar-vos, oh musas
Por um ideal de homem que não se conhece
Que se pudesse louvar-vos sem pressa e de forma graciosa
Seria preciso ter-vos conhecido as delícias divinais
Seria preciso estar acostumado às grandes hecatombes
E à vida das arcádias
Ficamos pelo menos com as libações

ÁTILA, O FLAGELO DE DEUS

A internet está cheia de bobagens.
Quando Átila entrevistou-se com Leão I, pergunto-me se sabem em algum lugar o verdadeiro motivo de sua retirada para a Panômia, na, pelo que conheço, insípida Hungria. Porém, como não conheço a Hungria, a não ser pela fama de suas putas, uma das quais conheci, e não era originalmente uma puta, tampouco uma húngara genuína (judia, talvez) - deixou-me ela para casar-se com um velho endinheirado - não falarei mais da Hungria.
A internet está cheia de bobagens.
"Bullshit". Mas a grande verdade é que a idiosincrasia é o grande absurdo, e absoluto contraditório em si / por si, e sei que isso está mais estranho que Jorge Mautner, mas a verdade às vezes é feia ou absurda.
A internet está cheia de bobagens.
E o problema de Deus foi abandonado. Mas Átila continua vivo. Se quiser rir, arreganhando os dentes, não me importarei. Eu rio de mim mesmo, e peço uma proteção a Deus, mas não para evitar um resfriado. Quando peço a Deus, peço a "eu"; quando elimino Deus, elimino "eu". Acreditar em "eu" parece ser a maior dificuldade / necessidade daqueles que buscam a Deus. Busco a Deus nas águas cálidas do mar de verão, nas pantomimas dionisíacas, na mulher amantíssima, na natureza perfeita, como Isidore Ducasse.
A internet está cheia de bobagens.
Quando eu tiver um cachorro, chamarei de "Deus".

HENRY MILLER

"Se, com intervalos de séculos, aparece um homem de olhar desesperado e faminto, um homem que vira o mundo de cabeça para baixo a fim de criar uma nova raça, o amor que ele traz ao mundo é transformado em fel e ele se torna um flagelo"

UMA BACTÉRIA NO RETO DA LUANA PIOVANI

Era lúgubre a noite na vila. Como tudo em Kansas, a noite é também metafísica. Os travecos agora tomam conta da cidade. Olho para o maço. Apenas mais um cigarro. Ora não tenho a torre Eiffel de fundo. Não é como a Paris de Henry Miller, onde basta esperar. Aqui, nada acontece sem esforço. Poderia ter um pouco mais de bom gosto. Vou pensar em algo. Algo como bom gosto. Vejo uma mosca, flanando histérica. Lembro-me imediatamente da mosca de Nietzsche. Olho para a mosca, e ela para mim e, repentinamente, estou voando com aquele "pathos", direto para o banheiro da Luana Piovani. Ela toma seu banho que acredito que tome todos os dias, mas como mosca ainda não posso me aproximar dela. Há algo ainda de muito importante em uma mosca, que faz com que se importem com ela. Sinto-me pequeno ali, em forma de mosca, afinal sou eu! Kansas City é um lugar onde Henry Miller não sobreviveria um dia.
Tenho que sair para comprar cigarros. Não que tenha que comprar cigarros, apenas me habituei a eles, são como uma família. Agora escrevo a lápis. Uma boca livre em um cyber onde copio para o Blog. Certamente Miller sobreviverá aos Blogs. Por isso tudo, sorrio. Não posso ser niilista. Sou grande, sou o Grande Nada. Mas, ainda assim, sou grande. Como aquela mosca. E se sou grande, ainda que em forma de mosca, posso acender mais um cigarro. Meu próximo passo será tornar-me uma bactéria...

13.4.05

POLIXENA

(...)Eu, porém, sou o poeta...Eis aqui a porra do poeta, Polixena! Pintou Homero seu Nestor, que era sábio, porém sólido e combativo, mesmo na velhice. Aquiles cedeu sua juventude, não temendo para si a morte de Heitor, fez chorar sua mãe Tétis - quem disse que deuses não morrem? A morte de Aquiles era para Tétis a morte de uma sua própria parte...A morte da parte de uma deusa! A parte que se separou de seu corpo divino era maculada pela mortalidade, mas qual, os Deuses, eu já disse, são um tanto sádicos, esses vampiros safados! Zeus faz filhos mais que um nordestino...Zeus, esse impulso gerador, sublime, despreocupado, apenas perfeição, um deus indiferente, cuja imagem, porém, é de benevolência, é claro, sempre há o jogo da política. Agrade aos deuses, e de preferência seja um de seus parentes...Mas eu sou apenas uma porra de poeta...e não se trata aqui de um franco atirador! Conheço exatamente meus alvos! Talvez tenha tempo para combater, sou afinal um Nestórida. Caminhareu madrigada adentro, atiçarei os cachorros, eis aqui a mercadoria, sei que pouco vale! Me pague uma cerveja, Jack, e está tudo bem! Os cigarros parecem melhores agora que fumo menos! Pudera, não passo de um personagem de Dostoievski. Obviamente, daqueles que gostam de uma boa trepada!

ESGOTOS SUJAM A VIDA COM VERDADE - I

Como é triste o abandono belo e triste
Como é cinza a tarde bela e cinza
Sob o abandono da cidade cinza
Abandono do barco, apenas para os fortes
Que se tratam como fracos
Sob o grito do som sombrio de blues de metafísicas poéticas
Sob o tronitoante choro do vazio de lágrimas que se sabem sem sentido
Sob a vista das gargalhadas dos deuses ridículos e belos e perfeitos
Sob a placa de qualquer merda de tabacaria
Sob a voz de uma mulher negra como pérola de diamante negro
Blues desfilam pedras de tijolos irregulares
Periferias mórbidas exibem liturgias coloridas e felizes em um sábado de sol
Jesus volta e morre todos os dias todos salvos e se perdendo de novo
Paixão sexo amor qual é a diferença ninguém explica
Como é cinza e triste a verdade - ninguém explica
Mas ela é só para os fortes
Que vivem sob as pontes e os viadutos gautamas temidos com doze olhos de Jeová
E os cachorros que rezam por um frango de televisão de cachorro
Pedem bençãos e curas às portas de hospitais hospitaleiros universais e do reino de deus
O menino brinca sozinho em cima da árvore dos seus pensamentos e se deixa levar
O mais rápido que pode
E chora, porque experimenta uma das raras emoções da montanha russa do espírito
Que sobe devagar para uma descida vertiginosa nos espaços desconhecidos e perigosos
Daquilo que se teme e não possui sentido
A fotomicrografia do momento
Que musas abundantes de seis naturais enrijecidos pelo poder divino da
Comunicação Social
Que mentiras cada vez mais contadas tentam nos seduzir
Quantos nos temem porque somos a hidra e temos muitas cabeças?
Que o motor nos falte, mas
Um dia o bom Jazz foi uma coisa, hoje ele é outra
Malditos, vede que a maldição caiu sobre nós!
Nada que se fixe - tudo isso é cadáver!
Dentes de dragão com dor de denta queimam sob o fogo das próprias labaredas
Barbas de Deus queimadas estrelas caido prostitutas que os judeus tanto temem
A própria e sem sentido e eterna protoexistência de qualquer coisa como judeus ou gentios
Ou sãos ou loucos ou bichas ou homens ou mulheres ou negros ou brancos ou amarelos
Ilusão!
(Jack Keslarek)

BRECHT ACORRENTADO

Notícia ruim. Suspensa a estréia da peça "Alma Boa de Setsuan", pela Cia Oberson Lourdes e os Mexicanos, prevista para Sexta última na sala Ademar Guerra, do Centro Cultural São Paulo. Problemas com direitos autorais, área em que não se encontra uma alma boa.

12.4.05

DUCASSE

Homenageio Lautréamont. Homenageio Maldoror. Homenageio Ducasse. O bem X O mal. O bem + O mal. Poesia. Lixo. Arte. Lixo. Teatro. E o bem viver. Alguém saberia?