27.6.05

PARTIDA DE QUALQUER PARTE

Talvez, mas sempre a questão do gosto, temperada pela metafísica da morte. Nosso conhecimento com a morte é como o esquecimento, como o conhecimento do esquecimento: por negatividade. Não é direto, imediato, não passa do contato superficial que temos com a morte, com aquilo que acreditamos ser os "mortos", que é, antes de tudo, moralizado, com todas as suas chocantes contradições, e acima de tudo, bem vivo, em oposição, o que deixa a razão histérica. Já o esquecimento é o fenômeno em negativo por excelência, como a vaga lembrança de apenas supor-se o próprio nascimento, com o que temos deste tão somente indícios.

Talvez, uma definição de algo como "gosto" nada tenha com a escolástica e seus edifícios ortodoxos. A veleidade das mutações nos faz elevar os olhos para o oceano, em todas as suas direções e desmembramentos, voamos com asas de condor até a foz do Meles, até a Jônia, e vemos, ainda, diante de nós, a cabeça de Orfeu flutuando como uma nota de dez.

Abraçamos mil vezes o destino e mil vezes o refutamos. Faltou-nos coragem? Faltou-nos maior graça e mais leveza nos movimentos? Faltou-nos a malícia e o jogo de cintura do samba? O redemoinho da mediocridade é embaraçoso, mas então não queríamos braços fortes para o nado, e pernas robustecidas para um objetivo qualquer?

Recolham-se as migalhas que caem da mesa! O espetáculo do gosto ficará para os sucessores legítimos da humanidade, que eu não citarei, mais por uma questão de gosto.

Nenhum comentário: