22.5.16

SEMPRE RI



Era um homem do riso fácil. Sempre o chamaram filósofo. Da contradição arrancava a unidade. Da dúvida, a certeza . O homem era todo sorrisos. Provocá-lo achando que ele seria vencido era trazer à tona uma miríade de fábulas, lugares-comuns e frases de para-choques de caminhão. E sorrisos. Muitos sorrisos. E muitos o achavam sábio. Ao contrário do conselheiro Acácio, suas platitudes eram ditas de forma fácil, em um tom de voz afetado. Era considerado sábio, pois em terra de cegos quem tem olho não abaixa as calças.

Esse homem estava no rádio, na televisão, na internet e nas cátedras. Nada mais apropriado. Ele era um condutor de rebanhos, quer para o pasto ou para o abismo.

Entendo que rir é bom. Mas os idiotas são os que mais riem. De tais premissas, não sei se posso concluir que apenas os idiotas são felizes.

"Livre pensar é só pensar", dizia Millôr. E se a pobre inculta e bela ainda vigora, pensar não é falar.

Naquele dia, nosso sábio deparou-se com um homem muito enfezado. E deu vazão à sua cantilena sobre o riso, a alegria (entendam, gosto do riso) e  a conversa de botequim de fim de noite do homem que não bebe com os bêbados. Após seu panegírico sobre as salutares propriedades do riso, seu interlocutor despediu-se, dizendo:

- Assim nasceram as hienas.

E foi embora. Nosso sábio ficou lá, rindo.


14.5.16

DA MEDIOCRIDADE - POEMA

DA MINHA MEDIOCRIDADE
EU NÃO ME ORGULHO.
NÃO É COISA DE IDADE,
É NOVO E VELHO ENTULHO.

A VIDA E A NATUREZA
PARA ALGUNS É MERO ESBULHO.
PARA OUTROS É PUREZA,
PARA ALGUNS É MAIS BARULHO.

COMO SE O FRIO
CHEGASSE SÓ EM JULHO.
E A VERDADE
CHEGASSE EM UM MERGULHO
NA INSANIDADE,
EM UM EMBRULHO
DE PRESENTE.

RESISTENTE,
EU ME RENUNCIO;
ANTE À VERDADE RENITENTE
EU ME ESVAZIO.
-QUE DIZ?
NÃO OUÇO.
FAÇO OUVIDOS DE MERCADOR.

13.5.16

AQUELES CARAS ERAM VIOLENTOS




Aqueles caras eram violentos. Por algum motivo, não queriam me dar uma surra.
Mas deram. Eles nem queriam me dar uma surra, mas eu estava ali, punhos cerrados, pronto para apanhar.
Eles insistiam que não iriam me bater, mas eu não tergiversei, não retrocedi. Eu exigi apanhar.

Então, eles me bateram.

2.5.16

O GRANDE APRENDIZADO NO ENTENDIMENTO DO NADA.




O tom do professor era professoral.

Assim ele explicava a grande influência do nada no existente e como o nada forjou filosofias, partidos e slogans pelos quais uma fila de imbecis se sacrificou e matou milhões de inocentes.

- E Deus? - perguntou o aluno da última fila, de forma provocativa.

- Deus, respondeu o professor, Deus é um pouco mais antigo que o nada. Ele já existia.

Então, passou a tratar da eternidade.

Aí o tom do professor era confessional.

SEM DESPREZO, nada consta


"Eu pensei que seria poeta e escritor; fiz-me um batedor de carimbos".

Era a frase perfeita! Como queria comprar um caminhão apenas para pintá-la no pára-choque.

Mas ele não era um caminhoneiro. Era um batedor de carimbos.

Parou em frente ao espelho com a xícara de café na mão, olhou para o relógio. Lembrou do coelho da Alice Wonderland.

Poeta e escritor é assim como modelo e atriz.

Muito mais bem lhe fazia o carimbo, porque ali estava uma verdade em alto relevo: "NADA CONSTA".