E eu também sou a placa.
A placa que também não haverá um dia.E eu também sou o letreiro.
Mas você era a língua em que o letreiro fora escrito.
E agora o que há escrito em mim não faz mais sentido.
Porque quando você se foi, foi-se o idioma em que fui escrito; já não existe.
E pendurado defronte à tabacaria defronte, estou, oscilando sem significado,
Vazio, observando o ir e vir dos inúmeros Esteves como se tal fosse a eternidade que é, mas não sou,
Não sabendo as letras que devo buscar para me escrever em uma língua que não mais existe,
Um idioma que se foi.
E apesar de não ser, isso é também eternidade.
Ainda quando a corda gasta se arrebenta e eu, mera placa não escrita, espatifo-me no chão,
Continua a ser e a ser eternidade.
Continua a ser eternidade...
E quando alguém passa por mim e indaga: "estás bem?", é sempre o Esteves.
E sem metafísica ajuda a bater-me a poeira que se impregnou da queda.
Sorrio um sorriso morto e respondo que sim,
E quando ele se vira, deixo escorrer uma lágrima que evapora de mim, em eternidade,
De saber falar apenas a mim, que conheci tal idioma que se foi e é você.
E já não há mais placa, que já eu mesmo não sou, intransitivo.