15.12.05

EDIÇÃO

Edito a vida, edição tridimensional.

Edito a vida, fascínio fútil.

Edito a vida, cortando um cinco e colocando um seis.

Mais mil anos em um bug sincronizado...

31.7.05

MAIS FÁBULAS

Para quem gosta de figuras. Não há portos. Não há casas de tolerância. Mais que tudo, há um grande oceano, e o oceano das idéias, que nos trazem alguma civilidade. O oceano das idéias funde-se ao oceano físico, de tal forma que os une alguma matéria cuja natureza não é conhecida, como a própria natureza da matéria física.

Há um grande segredo, é certo, um quebra-cabeças infinito onde cada pensante é uma peça, mas as peças jamais chegam a encaixar-se, para o bem do universo. A grande separação se mantém equilibrada, mas não se sabe quando, e novamente a fusão poderá ocorrer.

Isso é bricabraque, é óbvio, visto que a finalidade de tudo é não levar ao susto, o que é impossível. O próprio equilíbrio se traduz em precariedade, por ter que se manter livre de distúrbios. Uma flecha pode nos ser lançada a qualquer momento, senhores, tempos de paz ou tempos de guerra, e não é isso que nossos sábios pastores nos vêm ensinando há milênios?

Examinai ainda a sua moral, homens "livres", examinai a contento e verão que, nesse campo, não se avançou em toda a civilização quanto em outros. Mas para quê falar de moral? Tenho um oceano, e o oceano é o que resta de mais alta simplificação. E se isso vos parece prolixo e obscuro senhores, é porque o show já terminou.

FÁBULAS DO GRANDE NADA

Hoje querem homens para que não pensem. Não, esqueça o trabalho. Homens, como qualquer produto, valem dinheiro. Homens com sonhos, uma piada. Esqueçam os sonhos. Até porque os homens são adestrados para que não lidem muito bem com os sonhos.

Há um pouco de amargor na minha boca. Devem ser as cervejas que não paro de tomar aqui no litoral...É o Grande Nada, cheio de solidão para partilhar com quem quer que seja. O sol a pino e um ciber em uma avenida chamada Anchieta, como muitas outras, e tudo parece bem mais simplificado. Talvez uma caricatura de infância. A quem importa?

Nada seria tão interessante se eu não estivesse aqui também para falar algo sobre Deus. Há em alguma terra o Deus dos perdidos, os perdidos que vaguearam e que povoaram, os perdidos que desbravaram corajosamente e em sua busca não raro contemplaram com algum ânimo a cara da morte.

Artistas, vagabundos, aventureiros, destemidos, tolos, perdedores, mas há algo a ostentar ante um mundo cheio de medo.

Mas estão todos cheios de pressa, para que tenham medo, e em algum lugar está a minha coragem e a minha pressa; muitos cometem temeridades, e agora uso apenas meu corpo, e os dedos deslizam o deslizar simétrico da modernidade sobre teclados vickings como machados cortando muitas cabeças inimigas, talvez cabeças romanas, quem o sabe, mas há sempre uma mulher, uma mulher de algum lugar da sua infância e talvez você seja agora um simulacro de uma caricatura de infância, mas a mulher é muito bela para que você desvie o olhar e a infância, muito breve.

Ora, companheiro, você parece...melancólico?

7.7.05

O QUARTO

Goteja o tempo sem sentido. Ah, mas é tão belo quando não há mais o sentido, tudo se torna beleza, quando não se há mais o que fazer, onde ir. O quarto é belo, a velha mesa é bela, a parede rosa é bela e degradada, o prédio antigo é decadente, é belo, a cama redonda onde prostitutas e travestis costumam ganhar a vida. O quarto de vinte pratas, talvez o mais barato da cidade. O quarto da nove de julho, e o tempo pingando, e o cidadão lá, sozinho com os dedos na ferida da realidade, ele se conforta, não goza na ferida, mas, se é que se saiba que diabos seja a felicidade, realmente se é feliz, uma felicidade vazia e vã, uma felicidade lúcida, sem qualquer ingrediente místico de contrição. O cidadão ali, na cama, sozinho, olhando a lâmpada, gozando seu nirvana laico, como se vivesse na década de 20, como se não houvesse uma civilização acelerando na rua os modernos automóveis, a vida se dá numa pacata vila da inexistência, como se o mundo não corresse para se consumir, produzir e novamente se consumir, como se aquele quarto e aquela noite fossem eternos, ah, talvez ele seja o único humano ainda vivo!

27.6.05

PARTIDA DE QUALQUER PARTE

Talvez, mas sempre a questão do gosto, temperada pela metafísica da morte. Nosso conhecimento com a morte é como o esquecimento, como o conhecimento do esquecimento: por negatividade. Não é direto, imediato, não passa do contato superficial que temos com a morte, com aquilo que acreditamos ser os "mortos", que é, antes de tudo, moralizado, com todas as suas chocantes contradições, e acima de tudo, bem vivo, em oposição, o que deixa a razão histérica. Já o esquecimento é o fenômeno em negativo por excelência, como a vaga lembrança de apenas supor-se o próprio nascimento, com o que temos deste tão somente indícios.

Talvez, uma definição de algo como "gosto" nada tenha com a escolástica e seus edifícios ortodoxos. A veleidade das mutações nos faz elevar os olhos para o oceano, em todas as suas direções e desmembramentos, voamos com asas de condor até a foz do Meles, até a Jônia, e vemos, ainda, diante de nós, a cabeça de Orfeu flutuando como uma nota de dez.

Abraçamos mil vezes o destino e mil vezes o refutamos. Faltou-nos coragem? Faltou-nos maior graça e mais leveza nos movimentos? Faltou-nos a malícia e o jogo de cintura do samba? O redemoinho da mediocridade é embaraçoso, mas então não queríamos braços fortes para o nado, e pernas robustecidas para um objetivo qualquer?

Recolham-se as migalhas que caem da mesa! O espetáculo do gosto ficará para os sucessores legítimos da humanidade, que eu não citarei, mais por uma questão de gosto.

13.6.05

NIETZSCHE

A maturidade do homem consiste em ter reencontrado a seriedade que em criança se colocava nos jogos.

***

Uma coisa explicada deixa de interessar. - O que queria dizer o Deus que sugeriu: "conhece a ti mesmo"? Talvez quisesse dizer: "deixa de interessar-te por ti mesmo! torna-te objetivo"! - Sócrates? e o "homem científico"?

***

Somos mais desontestos para com Deus: pretendemos que ele não possa nem deva pecar.

***

O amor por um único ser é uma barbárie: porque acontece em detrimento de todos os outros seres.

8.6.05

POSTREAL INC.

A nova forma literária cyberclássica engatinha suas abstrações binárias, também no endereço "POSTREAL INC.", de um camarada que se apresenta como "Faustrollmachine". À parte os cadáveres literários que por aí se exumam como "literatura", um frescor imponente de uma nova e genial anti-literatura. É o nosso primeiro link, que recomendamos.

FÁBULAS DO GRANDE NADA

I - FÁBULAS DO GRANDE NADA, O FAUSTO CIBERCLÁSSICO

Aqui, nas alturas gélidas, nos cumes do pensamento, anda aturdido e apressado o efêmero homem.
Ah, mente, coroa da abstração: mente do pensante.
Serás privilégio de poucos ou pura prestidigitação?
Pensa na morte, mas sem mérbida motivação.
Não é do ócio que vive esse homem, nesse momento da história, se é que há história.
As fábulas desse grande que deseja nada
Ou desse nada que deseja grande,
Percorrerão os quatro cantos e um dia o mundo tornará a ser mundo, quando todas as partículas do ser desintegrado zombarão da sabedoria e seu leito de Procustro.
Assim, enquanto homem, só pode fazer coisas de homem.
E o Grande Nada e sua ferramenta pensante entram pelo ânus da sabedoria...
Grande Nada maldito!
Se é que existem malditos...
Desliza a mente do Grande Nada pelo escorregador da história;
Com tapas nas orelhas dos momentos ele se diverte um pouco.
Blasfema de Deus porque o ama.
Pensará nEle quando seu corpo desmanchar.
Deus é pensamento puro.
Mas agora desce mais esse infame
Querendo se fazer poeta.
Um passo, uma parada
.

II - BUDA PRECISA FUMAR UM CIGARRO.
O GRANDE NADA, JÁ DE ORDINÁRIO, DIANTE DO MUNDO. O SOL BRILHA E OFUSCA SUA VISTA.

- Ah, toda essa loucura!
Morta é a poesia
Eu a sepulto!
Não nego minha missão.
O Grande Nada.
Programa da Matrix exterminando o futuro.
De ordináruio na sessão plenária,
Trinta mil para a comissão do Grande Nada - refúgio encontrará nos alpes tranqüilos do pensamento puro.
Mas entender o mundo vale pouco em comissão.
E o pensamento se pensa sob viadutos e em vagões de trens.
E ao fim, pensar nada está valendo.
E nem os canibais caçadores de cabeça
Preocupam-se com o nível mental que você anda por aí usando.

Vincent Van Gogh

"Seria portanto um mal-entendido se você persistisse em acreditar que, por exemplo, agora eu seria menos caloroso por Rebrandt ou Millet ou Delacroix ou quem quer que fosse, pois acontece justo o contrário, apenas, veja você, há várias coisas em que acreditar e amar, e há algo de Rembrandt em Shakespeare, e de Corrège em Michelet, e de Delacroix em Victor Hugo e ainda há algo de Rembrandt no Evangelho e algo do Evangelho em Rembrandt, como queira, isto dá mais ou menos na mesma, desde que se entenda a coisa como bom entendedor, sem querer desviá-la para o mau sentido e se levarmos em conta os termos da comparação, que não tem a pretensão de diminuir os méritos das personalidades originais. E em Bunyan há algo de Maris ou de Millet e em Beecher Stowe há algo de Ary Scheffer".

4.5.05

UMA FALA E O AMOR

Do seu jeito, ela sabe. Tem um mundo inteiro dentro de si. Tempo e espaço; só dela, o absoluto. Tento adivinhá-lo, mas nem todas as sabedorias e tampouco as víceras de todas as aves poderão dizê-lo.

Contento-me com um bom copo de scoth, ou água mesmo. Tento pensar em Platão, o poeta. Nenhuma das palavras que disser alcançará quem quer que seja. Às minhas, eu me refiro.

Movimento o gelo, vagarosamente, e certamente você rirá quando eu disser que ouço a voz de Jim Morrisson. Uma grande bobagem, pode me mandar calar a boca, se quiser... Eu não disse que você iria rir?

Sonhei contigo. Envolvida por sedas e um brilho que talvez sequer possua, mas, sim, são meus olhos, e não posso deixar de pensar nisso, às vezes. Não sempre, que qualquer um enlouqueceria.

Nada resistirá ao tempo, nem as palavras, que algum dia não haverá quem as possa ler. Ah, vacuidade tantas vezes mórbida das palavras!

Alguns nascem póstumos, já dizia Nietzsche, também poeta. Zumbem essas palavras como a efemeridade aos meus ouvidos. A efemeridade dos espelhos. Jamais veremos face a face.

E o amor? Pequena pulga zombeteira mordiscando nossa carne...

27.4.05

SOZINHO PENSANDO EM BELLE

Solidão amada
Amada odiada
Pendular dissimulada
Solidão amarga
amarga doce
bandida bandida
amiga parida
fodida solidão
solidão mentira
atira destila
solidão oficial
animal vejetal
solidão mineral
mineral água
solidão terra
ar fogo
solidão homem
mulher solidão
poesia jogo
poesia entendimento
solidão conhecimento
sabedoria solidão
quietude solidão
solidão perfume
sabor solidão
amor ódio
paz raiva
tesão solidão
solidão nuca
orelha ventre
solidão seios
solidão Belle

O DEUS QUE FUMA

O Deus que fuma se dissolve na fumaça. Nenhum Deus Objeta ao homem. Após o abraço final, saúde infinita e dissolução do tempo e do espaço.

O DEUS MORTO

O Deus morto traz esperança aos olhos do homem enganado

22.4.05

NOSSO CORRESPONDENTE BAUDELAIRE

Telegrama postado por nosso correspondente no último lugar da terra:


AQUI É O RECANTO FINAL, NÃO VAI ALÉM...

ALÉM DAQUI, NENHUM LINK. NINGUÉM IRIA QUERER.

AQUI, FOLIA, 24 HORAS POR DIA!

AQUI ONDE ESTOU COM UM LAPTOP NO COLO.

É UMA PRAIA ONDE MANTENHO CONTATO COM A CIVILIZAÇÃO VIA SATÉLITE,

INOBSTANTE O FATO DE TRATAR-SE DE UM LOCAL ERMO, PRIMITIVO,

SOU UM CARA MUITO RICO, E TENHO TUDO QUE PRECISO,

COISAS E COMPANHIAS...

MANDEI FAZER UM DRINK DELICIOSO - "SEX ON THE BEACH"!

OS NATIVOS SÃO DÓCEIS - O CONTATO COM A RIQUEZA É CIVILIZADOR

NUM LOCAL INABITADO, E ATÉ INÓSPITO, EU DIRIA

EU VIVO COMO UM BOM CRÍTICO DE ARTE, UM DEGUSTADOR DE ARTE,

QUE É PAGO PARA FALAR BEM DO QUE É MUITAS VEZES BOM MESMO!

PELA NET, ESTAREI ACOMPANHANDO A PEÇA "ALMA BOA DE SETSUAN",

(já que "desacorrentaram" Brecht), POR UMA WEB CAM ESCONDIDA,

QUE TRANSMITIRÁ EM TEMPO REAL UM ESPETÁCULO DE BRECHT!

NADA COMO BOM GOSTO NA VISÃO - UM SONHO BOM COM SABOR DE ETERNIDADE!

18.4.05

ESGOTOS SUJAM A VIDA COM VERDADE II

Conseguiria ter para mim achado, oh humanidade precária
Um meio pelo qual poderei de ti zombar eternamente
Sem que me afeteis até o meu derradeiro suspiro?
Que força para tanto!
Mas choro, eis que teria que alcançar o sobre-humano
E teria que rir entre o horrível espetáculo de máscaras
E contar ainda com uma perfeição sobre-humana
Poderia eu aplicar às musas suficientes elogios
Para receber bençãos divinais?
Poderia eu levantar minha cabeça acima
Dos inúmeros animais rastejantes com uma sensação qualquer
De leve embriaguês Keep Cooler em várias cores
Em lojas de conveniências flutuantes nos céus sombrios
De um dos anos 80?
Oh, musas, aplico-me à verdade, e a verdade é o nada!
Que fosse sempre desejável que o nada fosse belo
Como as vossas formosuras!
Que fosse desejável que a totalidade de nossa existência
Fosse reservada para o louvor das vossas beldades
Oh, Lúcifer cruel, Deus disfarçado de mal para reinar com maior tirania!
Que nos esconde os sátiros e as musas e as delícias
Porque somos civilizados mas devemos conviver com a selvageria
E somos melhores mas não podemos sê-lo
Seremos logo escravizados pelos objetivos que não são os nossos
Por deuses que não são os nossos
Seria bonito que tivesse voz para que me levantasse e gritasse
Seria bom ouvir louvar-vos, oh musas
Por um ideal de homem que não se conhece
Que se pudesse louvar-vos sem pressa e de forma graciosa
Seria preciso ter-vos conhecido as delícias divinais
Seria preciso estar acostumado às grandes hecatombes
E à vida das arcádias
Ficamos pelo menos com as libações

ÁTILA, O FLAGELO DE DEUS

A internet está cheia de bobagens.
Quando Átila entrevistou-se com Leão I, pergunto-me se sabem em algum lugar o verdadeiro motivo de sua retirada para a Panômia, na, pelo que conheço, insípida Hungria. Porém, como não conheço a Hungria, a não ser pela fama de suas putas, uma das quais conheci, e não era originalmente uma puta, tampouco uma húngara genuína (judia, talvez) - deixou-me ela para casar-se com um velho endinheirado - não falarei mais da Hungria.
A internet está cheia de bobagens.
"Bullshit". Mas a grande verdade é que a idiosincrasia é o grande absurdo, e absoluto contraditório em si / por si, e sei que isso está mais estranho que Jorge Mautner, mas a verdade às vezes é feia ou absurda.
A internet está cheia de bobagens.
E o problema de Deus foi abandonado. Mas Átila continua vivo. Se quiser rir, arreganhando os dentes, não me importarei. Eu rio de mim mesmo, e peço uma proteção a Deus, mas não para evitar um resfriado. Quando peço a Deus, peço a "eu"; quando elimino Deus, elimino "eu". Acreditar em "eu" parece ser a maior dificuldade / necessidade daqueles que buscam a Deus. Busco a Deus nas águas cálidas do mar de verão, nas pantomimas dionisíacas, na mulher amantíssima, na natureza perfeita, como Isidore Ducasse.
A internet está cheia de bobagens.
Quando eu tiver um cachorro, chamarei de "Deus".

HENRY MILLER

"Se, com intervalos de séculos, aparece um homem de olhar desesperado e faminto, um homem que vira o mundo de cabeça para baixo a fim de criar uma nova raça, o amor que ele traz ao mundo é transformado em fel e ele se torna um flagelo"

UMA BACTÉRIA NO RETO DA LUANA PIOVANI

Era lúgubre a noite na vila. Como tudo em Kansas, a noite é também metafísica. Os travecos agora tomam conta da cidade. Olho para o maço. Apenas mais um cigarro. Ora não tenho a torre Eiffel de fundo. Não é como a Paris de Henry Miller, onde basta esperar. Aqui, nada acontece sem esforço. Poderia ter um pouco mais de bom gosto. Vou pensar em algo. Algo como bom gosto. Vejo uma mosca, flanando histérica. Lembro-me imediatamente da mosca de Nietzsche. Olho para a mosca, e ela para mim e, repentinamente, estou voando com aquele "pathos", direto para o banheiro da Luana Piovani. Ela toma seu banho que acredito que tome todos os dias, mas como mosca ainda não posso me aproximar dela. Há algo ainda de muito importante em uma mosca, que faz com que se importem com ela. Sinto-me pequeno ali, em forma de mosca, afinal sou eu! Kansas City é um lugar onde Henry Miller não sobreviveria um dia.
Tenho que sair para comprar cigarros. Não que tenha que comprar cigarros, apenas me habituei a eles, são como uma família. Agora escrevo a lápis. Uma boca livre em um cyber onde copio para o Blog. Certamente Miller sobreviverá aos Blogs. Por isso tudo, sorrio. Não posso ser niilista. Sou grande, sou o Grande Nada. Mas, ainda assim, sou grande. Como aquela mosca. E se sou grande, ainda que em forma de mosca, posso acender mais um cigarro. Meu próximo passo será tornar-me uma bactéria...

13.4.05

POLIXENA

(...)Eu, porém, sou o poeta...Eis aqui a porra do poeta, Polixena! Pintou Homero seu Nestor, que era sábio, porém sólido e combativo, mesmo na velhice. Aquiles cedeu sua juventude, não temendo para si a morte de Heitor, fez chorar sua mãe Tétis - quem disse que deuses não morrem? A morte de Aquiles era para Tétis a morte de uma sua própria parte...A morte da parte de uma deusa! A parte que se separou de seu corpo divino era maculada pela mortalidade, mas qual, os Deuses, eu já disse, são um tanto sádicos, esses vampiros safados! Zeus faz filhos mais que um nordestino...Zeus, esse impulso gerador, sublime, despreocupado, apenas perfeição, um deus indiferente, cuja imagem, porém, é de benevolência, é claro, sempre há o jogo da política. Agrade aos deuses, e de preferência seja um de seus parentes...Mas eu sou apenas uma porra de poeta...e não se trata aqui de um franco atirador! Conheço exatamente meus alvos! Talvez tenha tempo para combater, sou afinal um Nestórida. Caminhareu madrigada adentro, atiçarei os cachorros, eis aqui a mercadoria, sei que pouco vale! Me pague uma cerveja, Jack, e está tudo bem! Os cigarros parecem melhores agora que fumo menos! Pudera, não passo de um personagem de Dostoievski. Obviamente, daqueles que gostam de uma boa trepada!

ESGOTOS SUJAM A VIDA COM VERDADE - I

Como é triste o abandono belo e triste
Como é cinza a tarde bela e cinza
Sob o abandono da cidade cinza
Abandono do barco, apenas para os fortes
Que se tratam como fracos
Sob o grito do som sombrio de blues de metafísicas poéticas
Sob o tronitoante choro do vazio de lágrimas que se sabem sem sentido
Sob a vista das gargalhadas dos deuses ridículos e belos e perfeitos
Sob a placa de qualquer merda de tabacaria
Sob a voz de uma mulher negra como pérola de diamante negro
Blues desfilam pedras de tijolos irregulares
Periferias mórbidas exibem liturgias coloridas e felizes em um sábado de sol
Jesus volta e morre todos os dias todos salvos e se perdendo de novo
Paixão sexo amor qual é a diferença ninguém explica
Como é cinza e triste a verdade - ninguém explica
Mas ela é só para os fortes
Que vivem sob as pontes e os viadutos gautamas temidos com doze olhos de Jeová
E os cachorros que rezam por um frango de televisão de cachorro
Pedem bençãos e curas às portas de hospitais hospitaleiros universais e do reino de deus
O menino brinca sozinho em cima da árvore dos seus pensamentos e se deixa levar
O mais rápido que pode
E chora, porque experimenta uma das raras emoções da montanha russa do espírito
Que sobe devagar para uma descida vertiginosa nos espaços desconhecidos e perigosos
Daquilo que se teme e não possui sentido
A fotomicrografia do momento
Que musas abundantes de seis naturais enrijecidos pelo poder divino da
Comunicação Social
Que mentiras cada vez mais contadas tentam nos seduzir
Quantos nos temem porque somos a hidra e temos muitas cabeças?
Que o motor nos falte, mas
Um dia o bom Jazz foi uma coisa, hoje ele é outra
Malditos, vede que a maldição caiu sobre nós!
Nada que se fixe - tudo isso é cadáver!
Dentes de dragão com dor de denta queimam sob o fogo das próprias labaredas
Barbas de Deus queimadas estrelas caido prostitutas que os judeus tanto temem
A própria e sem sentido e eterna protoexistência de qualquer coisa como judeus ou gentios
Ou sãos ou loucos ou bichas ou homens ou mulheres ou negros ou brancos ou amarelos
Ilusão!
(Jack Keslarek)

BRECHT ACORRENTADO

Notícia ruim. Suspensa a estréia da peça "Alma Boa de Setsuan", pela Cia Oberson Lourdes e os Mexicanos, prevista para Sexta última na sala Ademar Guerra, do Centro Cultural São Paulo. Problemas com direitos autorais, área em que não se encontra uma alma boa.

12.4.05

DUCASSE

Homenageio Lautréamont. Homenageio Maldoror. Homenageio Ducasse. O bem X O mal. O bem + O mal. Poesia. Lixo. Arte. Lixo. Teatro. E o bem viver. Alguém saberia?