31.8.14

EU, CACHORRO



Impotente e indigno para tamanha sabedoria, tomo as migalhas caídas do lauto banquete da inteligência, à mesa dos mestres, como meu obrigatório senso comum. Como sou repreendido por derrubar a taça, dirijo-me abanando a cauda, envergonhado da obra por mim produzida.

Olho para eles  com olhar comovido, não a comoção da malícia, mas a verdadeira comoção dos estúpidos que, creio, somos todos nós. Mas não é que os mestres teimam em não serem estúpidos? Agem e falam de diversas formas, na língua do ébrio, na língua do sóbrio, na dos idiotas e dos cachorros, como eu.

Tento entende-los e traze-los à realidade, pincipalmente quando solitários e rendidos por uma boa garrafa de scotch.

Sim, eu sou o cachorro, sou fiel. Mas fielmente fornicarei com tudo. Sou bestial.

Mas sou inocente. Sou incapaz de direitos e de obrigações. Tem gente querendo me representar na política, mas não me representa. Ninguém me perguntou o que penso, mas como não sei falar, não posso reclamar dos cachorros que querem falar em meu nome.

Sou cachorro, mas não sou idiota. Não muito. Deixo-me governar por impúberes e por débeis.

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