Oh, potestades olímpicas e tectônicas, oceânicos baluartes;
Eis aqui uma denúncia da minha indignidade: sou, pois, um idiota, e vou explicar-vos por quê:
"Honorate l'altissimo poeta" não posso, posto que sou parvo. Contento-me em honrar tantos honestos retardados, quanto os haja.
Ignoro, pois, aquilo tudo que se chama "cultura", como antiquário da mente, que trato apenas de utilizar em forma de ornamento supérfluo. Não sou coisa ultrapassada, sou hodierno, vazio, estúpido e representativo de meus contemporâneos. Sou o Grande Ninguém, que caminha para lugar nenhum.
Avançado pois, sou eu, não velharia. Sou o futuro, não o passado. Não colhi nada em lugar nenhum e em todos os lugares colho o nada; por isso sou ótimo e mereço o respeito de meus convivas nessa festa infantil que é a vida nesta belíssima pós-modernidade.
Assim, como em tantos lugares, do nada se faz arte, aqui, do meu lugar, faço da arte o nada. Mas faço isso de forma otimista, porque me sinto bem sendo otimista, então fica provado que o otimismo é a verdade.
Tenho meu lugar na política, onde posso sempre inventar um futuro que não existe, na cultura, pois nela sou melhor, adiantando que o que não conheço não existe, então só posso ser melhor, posto que para mim não existe nada. Repito ideias vazias, conforme as ouvi alhures, como se fossem minhas (quanto mais vazias mais avançadas as ideias), e pela mera repetição elas se transfiguram em verdades (isso está provado). Já, com relação às verdades que ouço, eu as repílo, posto que delas advém o pessimismo, coisa da qual tenho horror...
Sou a mente coletiva, porque me abomina a idéia da solidão. Todo o saber me dói, portanto nada sei, nem procuro saber.
Sou a mente confusa, pois sou eu e o meu contrário, mas nunca pensei nisso, e o sou naturalmente.
Estou gordo e bem alimentado, sadio como diria um grande artista, amigo meu (sou amigo de todos os grandes artistas). Tenho um futuro pela frente e não penso na morte, porque não pensar na morte tem o efeito de idiotizar-me, e sendo idiota, transformo-me em gênio, por isso faço tanto sucesso entre meus contemporâneos, e posso esperar um futuro glorioso, quiçá eterno.
Agradeço a tantas pessoas cultas (cultas, mas modernas) que me ajudam a ser um gênio. Fazendo tudo igual a todos, contesto a ignomínia geral.
Espero agora uma ajudinha do governo.