Devo confessar.
Admito que não sei
nada sobre aquilo que ignoro.
Ignoro por que percorro
os cantos da pequena casa neste bosque da solidão, pena à mão,
defrontando-me com imagens que poderia ignorar como o feliz porquinho
da Circe.
Ignoro até por que não
ignoro as coisas que não ignoro.
Devo confessar que as
premissas com as quais produzo rios heraclitianos de estupidez são
intuídas de solidão voluntária, que se pode facilmente voltar
contra mim.
E se volta.
A solidão voluntária
repentinamente se aparenta trágica, mas permaneço nela, pois que
seu oposto, a companhia das multidões, dramática e patética,
causa-me calafrios de horror.
Espanto!
E quando o sopro de
senilidade e fraquejar demasiado humano me fazem desejar a companhia
das multidões, a solidão me obriga, e já não possuo direitos. Mas
aí já estou dramático e patético.
E falo e gesticulo com
a parede branca, minha companheira.
É a verdade que ignora
meus sentimentos.
Por acaso deveria eu
ser louco e estúpido como Aquiles?
Posso ao menos ser
comparado ao infeliz Ulisses?
Nasci em espanto, mas
dele esqueci de me retirar.
O pulsar do relógio e
de minhas veias me mandam apressar, mas não me apresso.
Eu sou o grande ninguém
que caminha para lugar nenhum, e isso me angustia.
Então quero terços e
na verdade na verdade vos digo.
E verdades não são
quebra-cabeças de Deus; são tapas na cara.
Merecidos.
James Brown não sabia
se era crente ou pederasta.
Sou crente. Apenas não
em mim.
Que infelizmente não
sou louco o suficiente para confiar no homem.
E tenho que acordar, e
dormir, e comer, e amar e angustiar e pedir perdão.
Por não ser e por ser;
até parece que isso é uma questão.
Como se fosse lícito,
ou mesmo factível, retirar o silício do espírito.
Não, eu não quero me
desfazer da culpa.
A culpa foi feita para
homens da minha idade. Da minha constituição. Da minha época.
E se todos quiserem
viver sem culpa, que não lancem suas culpas em mim, que não sou
chapelaria de culpas!
Já me basta ser o
Esteves sem metafísica, o heterônimo bastardo.
Um comentário:
Keslarek é maluco!
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