2.4.14

MISÉRIA


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Não podeis dizer
Que viva eu com folga
Às margens do Tietê,
Não do Sena, nem do Volga.
Nessa Brasilíada
Talvez haja heróis a cantar,
Mas avulta a primazia
Das verdades testemunhar.
Que conquistas são chacinas:
Não vamos embelezar.
Com arma, e-mail e caneta
Muito se pode matar.
A miséria está no bruto,
A se proliferar;
A miséria e também o bruto,
Embaixo do viaduto,
Nas favelas, nas biqueiras,
Nos escritórios também;
Nos fóruns acarpetados,
Nas plataformas de trem.
Nas mansões bem equipadas,
Nos carros blindados tão bem,
Todos miseráveis, achando-se amáveis,
Achando valer o que têm.
Derramam-se aos milhares,
Ganhando um, vinte mil, um milhão,
Ou não.

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