21.4.14

AH, O REVOLVER QUE BALANÇA EM MEU COLDRE



Não vos quero persuadir da verdade das minhas palavras. Sequer da sua veracidade. Tampouco da sua dignidade. Dignos são os que concluem sobre as coisas deste mundo, após vidas de reflexão.

Os que facilmente concluem, esses são as massas de Ortega Y Gasset, as massas de tomate, as massas de pizza.

Os italianos são brancos porque comem muito queijo. Eu sou moreno, porque como muito feijão carioca, que é plantado em São Paulo.

Mas os sábios de rápidas conclusões logo admitirão, ante a confusão das palavras, a impossibilidade de algo concluir acerca da verdade.

Admito, são muitas palavras. Sobre a verdade, ouvi falar que é mulher (Nietzsche). A loucura, mulher em Erasmo. Seduções...

Ao contrário do que podeis imaginar, considero-me mais um cego em uma terra de cegos, o que com copiosa boa vontade pode me assemelhar a um sócrates andrajoso. Um sócrates, assim, minúsculo.

Entendereis, ao olhar o mundo em volta.

Ao contrário do Dorian Gray de Lewin, não combino com acerto o uso do branco-e-preto com o colorido. Meu retrato não envelhece, sou eu que envelheço, sem technicolor. Se eu conhecesse a ordem, entenderia a ordem.

Sentei-me à mesa de um bar, com Deus, e bebi cachaça. Lá, permaneci por horas ouvindo-o falar em ordem; encantei-me com a ordem e com a fala. Junto ao balcão do bar, alguém lamentou: "Ah, o revolver que balança em meu coldre..." Ninguém ouviu. Eu ouvi. Deus ouviu.

O revólver que balançava atirou contra a legítima defesa do nada, que morreu, mas Deus nunca morre, e se riu dessa situação, um riso obviamente fátuo, já que ele é Deus.

E hermeneutas interpretarão em extensas exegeses esse fato mal narrado, e os idiotas estarão sempre tentando imitar a arte, suicidando o nada.

Não sou realista, tampouco fantástico, sequer utópico. Brindando à páscoa, o reino que não é deste mundo. Uma coisa é certa: amanhã estaremos todos um dia mais velhos. Vivos e mortos.

Nenhum comentário: