8.5.14

ABSINTO E GRANADINE X: FRAGMENTO DA VIDA

Naquela semana, eu estava cansado. Tentava ser metafísico, mas não passava do Esteves.

Havia alguns dias o episódio da bomba que explodiu ao meu lado e da tentativa de assalto que sofri não passavam por minha garganta. Lembro-me de colocar a caneta no copo e tentar escrever letrinhas na sopa. Eu não estava me divertindo, eu não estava fazendo arte, eu apenas estava com raiva.

Porque o cego não ouvia, e o surdo não enxergava, e o bêbado não bebia!

E o revolucionário não tinha sede de sangue e, cúmulo do absurdo, os idiotas eram "os pensadores".

Isso era o mundo real.

Eu queria alguma ordem, mas idiota era eu.

Havia uma cuspideira que pertencera a Getulho. Um vizinho meu. Getulho com "lh".

Getulho havia morrido. Mataram ele por suicídio (já disse que o idiota era eu).

Peguei a cuspideira e escarrei nela o sangue costumeiro. Agora, eu não precisava mais cuspir no chão de terra batida.

Nenhum comentário: