29.8.14

O ETERNO ENTRAR E SAIR



Os animais são uns bichos interessantes. Mas o tal do ser humano também. Micuinho e micuinha são dois animais chinchilentos. Pertencem àquilo que nos pet shops podemos denominar chinchilas.

Eles são meus amigos. Em verdade, dividem a casa comigo. Em verdade, não querem amizade comigo. Estão loucos para deixarem as gaiolas. Eu os mantenho ali porque sou cruel. Não os quero livres, manifestando sua superior inteligência que implantaria no mundo um regime político perfeito.

Agora, estão dormindo perfeitamente o sono dos justos, inconformados com a ração que lhes dou e planejando alguma revolução para serem libertados de suas gaiolas de concentração.

Eu realmente gostaria de libertá-los, para construírem sua sociedade perfeita do futuro. Mas sei que morrerão se eu fizer isso. Então não sei se os liberto, e os deixo morrerem por si mesmos, se eu próprio os mato, envoltos em gás Molotov/Ribbentrop, ou se continuo alimentando os bichos como tenho feito, impedindo sua fuga da gaiola em direção à morte.

As chinchilas vieram a mim por pedido de um amigo dileto, que delas não tinha como cuidar. Na realidade, eu não as queria, como elas a mim.

Estão loucas para procriar, algo com o que não posso compactuar.

Os seres humanos estão cada vez entendendo que sua inteligência está se aproximando da inteligência das chinchilas aqui de casa, minhas companheiras e confidentes. Não por um acréscimo na inteligência das chinchilas.

A coisa está ficando ridícula. Quando os animais são humanizados (não importa o avanço da ciência), o ser humano parece mais animalizado. Principalmente os defensores dos animais. Deviam ler mais Monteiro Lobato, o eugenista caboclo. Ao menos suas fábulas prestavam.

As minhas companheiras chinchilas não possuem espírito crítico. Isso é compreensível. Meus companheiros humanos também não. Isso é decadência.

A chinchila fêmea voltou para a gaiola. Eu vou para a cama.

Um comentário:

Unknown disse...

Adorei esse.