DILMA
Madrugada.
Ruas quase totalmente desertas. Tem um cara bêbado cantando na
Brigadeiro. A Brigadeiro é a avenida que começa no viaduto D.
Paulina. D. Paulina sai da R. Maria Paula e termina quando eu passo
em frente à padaria Santa Tereza, daí logo avanço o Largo do João
Mendes, que lá está, João Mendes, em forma de busto e,
atravessando a rua de carros assassinos e assassinos a pé, chego à
praça da Sé.
Mas
nada disso importa, porque tem um cara bêbado cantando na
Brigadeiro, à uma da manhã. E hoje, neste momento, o que importa é
esse cara bêbado cantando na Brigadeiro, onde durmo em um hotel de
trinta e cinco paus e agora me debruço na janela, que dá para a
Brigadeiro. O cara que canta está doidão e seria o único na
calçada, não fosse uma tia com uma sacola, que canta hinos da
igreja para contrapor aos hinos mundanos que o cara bêbado canta na
Brigadeiro.
Eu,
lá da janela do hotel de trinta e cinco, penso em uma música que
diz que a realidade é mais estranha do que a ficção, e cogito
unir-me aos dois na cantoria, mas não me atrevo.
O
que a Dilma tem com isso? Não sei.
Se
não tem comigo, tem com o cara que canta na Brigadeiro, se não com
ele, com o polícia cuja viatura acabou de rasgar na avenida aqui em
frente, e os demais polícias que estavam com ele. Se não, tem com o
ambientalista que acaba de ser assassinado, conforme dá na TV, e
para cujo a polícia não deu proteção porque estava prendendo
maconheiros à noite e apoiando despejos, de dia. Se Dilma nada tem
com eles, deve ter com as mulheres e homens e crianças assassinados
por serem fracos e inocentes nas mãos de covardes, poderosos ou não,
covardes ricos e pobres, ou fundamentalistas charlatões universais e
do reino de deus e o diabo na terra do sol.
O
problema é que os de cujus sempre deixam de cujinhos.
Então,
grito como Freud Flinstone: “Dilma, faça alguma coisa!”, e quem
me responde é o Barney, e o Barney é o cara bêbado que canta na
avenida Brigadeiro.
O
que a Dilma tem a ver com isso? Não sei.
Alguém
fala em Estado, outros dizem que a ditadura acabou, e eu sempre acabo
duvidando e acendendo um cigarro e ao fim rezo alguma oração porque
acabo sempre acreditando em Deus e cantarolando musiquinhas da
infância que passei na Igreja Batista.
Mas
o cara que canta na Brigadeiro nada tem a ver com isso.
Para
ele, foda-se o que eu penso.
E
Dilma? Não sei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário