Saiu
do consultório do médico, perplexo, teria entendido direito o que o
doutor lhe havia recomendado? As cólicas intestinais o abalavam
profundamente, a ponto de tornarem embotados seus mais triviais
pensamentos, impedindo-lhe o curso normal do raciocínio. Tentou
tranqüilizar-se, mas, bolas, como o fazer? Já tinha produzido seus
piores textos, já havia formulado suas pérolas menos preciosas nos
papos com os amigos. No trabalho, já havia expedido seus piores
ofícios, assinados por superiores pouco diligentes grassando, não
raro, inúmeros inconvenientes. Com as namoradas, já produzira as
piores situações, principalmente quando bebia demais, e vez ou
outra tivera suas piores crises de ciúmes. Já fumara os piores
charutos e bebera dos piores vinhos, comera nos piores restaurantes,
dormira nos piores hotéis, andara nas piores companhias, acordara
com as prostitutas mais feias de cinqüenta anos que fumavam crack
pela manhã, enfim, por mais que procurasse suas qualidades nas
piores e mais incultas produções de toda a sua vida, aquela que o
doutor lhe apontara era uma nova conquista no campo das piores coisas
que já fizera.
Parou no ponto de
ônibus e sentiu uma leve tontura, que o forçou a se apoiar no
poste. À sua frente, o banco mercantil, com um cartaz oferecendo as
melhores condições de crédito que, sabia ele, eram as piores.
Sentou-se no banquinho do “Melhor Pastel de Feira” que na verdade
era uma porcaria, e pediu um caldo de cana, muito provavelmente
contagiado por coliformes fecais ou talvez até o Mal de Chagas.
Imediatamente ao primeiro gole, uma forte pontada no ventre o fez
afastar violentamente o copo, que se espatifou no chão. Desculpou-se
com a coreana de avental muito sujo que o xingou em sua língua, algo
que o ofendeu profundamente, escapando-lhe um espontâneo
“vá-a-merda”.
Voltou ao ponto
de ônibus, nova tontura afligindo. Uma moça, muito bonita por
sinal, perguntou-lhe se se sentia bem, se precisava de algo, ele
negou, não, tudo bem, e em seguida desfaleceu, indo pateticamente ao
chão.
Abriu os olhos
com a luz do hospital ofuscando-lhe a vista, uma enfermeira igual à
Wilza Carla tentando acalma-lo, ele abriu um sorriso quando se
lembrou das palavras do médico anunciando seu mais novo recorde:
“Jamais, em toda a minha experiência clínica, eu vi um cocô pior
que esse!”
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