25.3.14

UM SÁBIO EXPLICA PORQUE OS POETAS MORREM



"Rimbaud sofreu sua grande crise aos dezoito anos, momento este da sua vida em que chegara à beira da loucura; daí em diante a sua vida é um deserto sem fim. Eu cheguei ao mesmo ponto na idade de trinta e seis para trinta e sete anos, idade em que Rimbaud morreu. Desse ponto em diante a minha vida começa a florescer. Rimbaud abandonou a literatura pela vida; eu fiz o contrário. Rimbaud fugiu das quimeras  que criara; eu as abracei. Cansado da tolice e do desperdício de mera experiência de vida, parei e transformei minhas energias em criação. Mergulhei na literatura com  o mesmo fervor e com o mesmo prazer com que mergulhara na vida. Em vez de perder a vida, ganhei vida; foi milagre após milagre, e cada infortúnio se transformava em coisa boa. Rimbaud, embora mergulhado num reino de climas e paixões inacreditáveis, num mundo de fantasia tão estranho e maravilhoso quando os seus poemas, tornou-se cada vez mais amargo, taciturno, vazio e tristonho.

Rimbaud restituiu literatura à vida; eu tentei restituir vida à literatura."

Henry Miller, O Tempo dos Assassinos, Gráfica Record Editora, 1968, p. 34.

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