27.3.14

ABSINTO E GRANADINE IX: A RAIVA E A ESCOVA


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A bílis lhe atingia o estômago. Sua raiva era difusa. Sem armas, sem tiros, sem morte. Não entendia direito sobre o que falava, entre os seus, ignorantes pretensiosos, estava confortável, era um deles, inobstante a honestidade intelectual. Já fora um homem com uma máquina de escrever, que diziam poder ser uma arma, agora era um homem com um computador, muito mais poderoso.
Só tinha um problema. Nunca escrevera nada. Procurou ser apenas obscuro e elíptico, sem jamais revelar sequer nas entrelinhas as verdades sobre o ser humano, sobre si mesmo.
Tinha raiva? Era ele Sócrates, ou Cristo?
Parecia que ele estava certo. Enquanto isso, alguém despreocupado procura pela escova.
A essa outra pessoa, a que procurava a escova, parecia que sua pequena alegria impedia a alegria do outro que achava sua alegria muito mais bem fundamentada, ainda que baseada em nada. Todos já ouviram isso antes, e os filólogos traduziram com impertinência os textos mais antigos acerca desse assunto, não sem temperá-los com suas próprias idiossincrasias, trocando enganos por outros enganos.
Todos perderam essa discussão, e morreram uns com mais, outros com menos raiva.

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