9.3.14

ABSINTO E GRANADINE IV - CUBA



Dizem que em Cuba todos são estudiosos. Se eu fosse cubano, também estudaria bastante para distrair a fome. Dizem que o Brazil é o país do futuro, futuro que virou presente. Tomando pelo presente, o futuro não parece animador. Se James Joyce vivesse no Brasil, jamais teria escrito Ulisses. O Brasil é lindo, e é uma merda. Dizem que o Brasil é uma merda – em muitos sentidos é verdade. Viver no Brasil é bom porque não é tão ruim. Somos mentalmente acomodados e preguiçosos. Posso falar mal do brasileiro pelo mesmo motivo que posso falar mal de mim mesmo. O brasileiro gosta mesmo é de gringo. O brasileiro é um cara carente e submisso. Adora ter alguém para quem bater continência. Também parece que foi assim com os poloneses e os africanos; ser índio é mais difícil, tanto é que não existe mais nenhum de verdade. Há muitos brasileiros bons. Mas são só alguns.
Todo o governo tem obrigação de se deixar ser ridicularizado pelas piores pessoas. Tudo o que ridiculariza um governo ainda é pouco.
Ridicularizar é verbo transitivo direto e indireto. Alguém tem alguma coisa ridicularizada por alguém, geralmente ridículo.
Ridículos passivos e ativos em um troca-troca eterno. Os que ridicularizam os ridículos também são ridículos, vide a imprensa. Todo esse ridículo é o lugar comum da terra de cegos.
O ser humano parece ser de natureza pobre; mesmo com todas as suas pretensas riquezas, seu fim é adubar o solo e alimentar os vermes.
Por isso tudo, eu declaro que sou ridículo. Honesto e, no momento, sadio e pobre. E não que isso seja verdade.

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