Hoje
é o dia em que eu não deveria ter ido trabalhar. Hoje é um dia em
que um homem respeitável não sai de casa, mas se sair, é para
pedir perdão por seu silêncio. Hoje, esse tipo de homem está
tentando, como todos os homens e mulheres. Seu silêncio quer
esconder a confusão, como todos os silêncios.
Hoje, este homem
deve pedir perdão pela abominável idéia de sair de casa. Hoje,
este homem deve pedir perdão por envolver o mundo em sua
idiossincrática cadeia de idéias disparatadas sobre a vida.
Hoje, este
respeitável homem limpa sua casa, suas roupas e seu corpo, porque,
por pior que ele seja, não pode viver na imundície.
Hoje é o dia, o
dia em que o homem foi, fez o que não quis, por um punhado de
dólares.
Por um pequeno
punhado de dinheiro, o qual gastou todo, com asco de si mesmo, em um
bar; após garantir sua pequena monta, este homem passou algumas
horas com os piores tipos de perdedores humanos e com eles gastou
tudo; no absurdo de sua vida pôde ver, não sem certo orgulho, vidas
mais absurdas que a sua.
No centro da
grande cidade chamada Lagarta bebeu até perder sua lucidez, sua
memória e, por pouco, qualquer resquício de dignidade. Um drinque
no inferno, os demônios esvoaçantes demonstravam a este pequeno
fauno o porquê de não usarem roupas brancas, que exibem manchas da
sujeira fácil.
A este pequeno
ser mitológico foi negado, felizmente, qualquer prazer com os
demônios, que recusaram seu convite para irem até a minúscula casa
que habita, onde ainda há Deus, embora Deus esteja velho e
debilitado, e sua voz muitas vezes não seja ouvida.
Nessas, como em
outras eventualidades, a este pequeno homem ainda é permitida a
companhia dos anjos que, em vão, clamam encarecidamente: não saia
de casa.
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