6.3.14

O VELHO DO METRÔ

Ele tomou banho na firma.
Tem  sessenta e seis anos, ou cinquenta e nove.
Separou-se da mulher; os filhos cresceram e se foram.
Tomou banho na firma.
Tenta ser elegante, mas em algo falhou.
Falhou na velhice.
O metrô balança.
O velho retesa a espinha.
Tomou banho na firma.
Cheira a sabonete.
Um rapaz sentado se mexe para um lado,
Mexe-se  para o outro.
Parece incomodado.
Vira-se para o velho e faz menção...
O velho franze o cenho:
-NÃO! - grita, imperativo.
Naquele "NÃO" se ouve:
- NÃO me diga que não sou homem;
- NÃO  me venha com sua juventude;
- NÃO venha dizer que está se levantando por mim!
- NÃO me perturbe! Deixe-me em paz! Eu sei me virar!
Mas o velho apenas disse, enfático: "NÃO".
Ele tomou banho na firma. O do lado era jovem e fedia.
O velho falhou na velhice.



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